Ele se foi.
Um pouco antes de saber, talvez no momento em que nos deixava, tive uma crise
de choro sem explicação. Meia hora de lágrimas e soluços que eu não conseguia
conter, dentro de um carro, dirigindo pelas ruas de São Paulo.
Tão estranho,
tudo.
Não apagarei
seus emails que estão na pasta reservada a ele, e suas orientações e
posicionamentos sobre a literatura e a gramática estão vivos em minha cabeça.
Também me lembro de sua resposta à minha mensagem em que eu dizia ter agora
certeza absoluta de que ele era a pessoa mais forte que já conhecera. Eu não
teria aguentado. Ninguém teria sobrevivido tão estoicamente.
Tudo o que sei
sobre a literatura, sobre a língua portuguesa - meu material de trabalho -
aprendi com ele. Ele foi meu verdadeiro orientador. Ainda tinha esperança de
que visse publicado meu livro de poemas. Agora, infelizmente, o agradecimento
será in memoriam.
Lembrei-me
também, há pouco, de que o primeiro livro que comprei quando entrei na
faculdade de Letras, na tentativa de me fazer, de me construir, foi o dele: Lírica e Lugar-Comum: Alguns
Temas de Horácio e sua Presença em Português. Comprei-o porque um colega a
quem admirava me disse que ele era o maior latinista que existia. Depois de
trabalhar tantos anos ao seu lado, ouso dizer: não apenas o maior latinista,
mas o intelectual mais brilhante e arguto com quem tive a honra de conviver.
Para quem
escreverei agora, com quem falarei daquilo que me mantém viva - a Arte - e de
tudo de humano, demasiado humano, que ela implica? Com sua partida, vários
ficaram desamparados. E eu me tornei órfã para sempre.
(Leila Guenther)
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