segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Para Francisco Achcar, sub tegmine fagi

Ele se foi. Um pouco antes de saber, talvez no momento em que nos deixava, tive uma crise de choro sem explicação. Meia hora de lágrimas e soluços que eu não conseguia conter, dentro de um carro, dirigindo pelas ruas de São Paulo.
Tão estranho, tudo.
Não apagarei seus emails que estão na pasta reservada a ele, e suas orientações e posicionamentos sobre a literatura e a gramática estão vivos em minha cabeça. Também me lembro de sua resposta à minha mensagem em que eu dizia ter agora certeza absoluta de que ele era a pessoa mais forte que já conhecera. Eu não teria aguentado. Ninguém teria sobrevivido tão estoicamente.
Tudo o que sei sobre a literatura, sobre a língua portuguesa - meu material de trabalho - aprendi com ele. Ele foi meu verdadeiro orientador. Ainda tinha esperança de que visse publicado meu livro de poemas. Agora, infelizmente, o agradecimento será in memoriam.
Lembrei-me também, há pouco, de que o primeiro livro que comprei quando entrei na faculdade de Letras, na tentativa de me fazer, de me construir, foi o dele: Lírica e Lugar-Comum: Alguns Temas de Horácio e sua Presença em Português. Comprei-o porque um colega a quem admirava me disse que ele era o maior latinista que existia. Depois de trabalhar tantos anos ao seu lado, ouso dizer: não apenas o maior latinista, mas o intelectual mais brilhante e arguto com quem tive a honra de conviver.
Para quem escreverei agora, com quem falarei daquilo que me mantém viva - a Arte - e de tudo de humano, demasiado humano, que ela implica? Com sua partida, vários ficaram desamparados. E eu me tornei órfã para sempre.


(Leila Guenther)


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