sábado, 22 de dezembro de 2012

"Ready to start"


Businessmen drink my blood
Like the kids in art school said they would
And I guess I'll just begin again
You say can we still be friends
 
If I was scared, I would
And if I was bored, you know I would
And if I was yours, but I'm not
 
All the kids have always known
That the emperor wears no clothes
But they bow down to him anyway
It's better than being alone
 
If I was scared, I would
And if I was pure, you know I would
And if I was yours, but I'm not
 
Now you're knocking at my door
Saying please come out with us tonight
But I would rather be alone
Than pretend I feel alright
 
If the businessmen drink my blood
Like the kids in art school said they would
Then I guess I'll just begin again
You say can we still be friends
 
If I was scared, I would
And if I was pure, you know I would
And if I was yours, but I'm not
 
Now I'm ready to start
 
If I was scared, I would
And if I was pure, you know I would
And if I was yours, but I'm not
 
Now I'm ready to start

Now I'm ready to start
I would rather be wrong
Than live in the shadows of your song
My mind is open wide
And now I'm ready to start
 
Now I'm ready to start
My mind is open wide
Now I'm ready to start
Not sure you'll open the door
To step out into the dark
Now I'm ready


(Arcade Fire)

sábado, 24 de novembro de 2012

This must be the place


Home is where I want to be
Pick me up and turn me around
I feel numb, born with a weak heart
Guess I must be having fun

The less we say about it the better
Make it up as we go along
Feet on the ground, head in the sky
It's okay, I know nothing's wrong, nothing

I got plenty of time
You got light in your eyes
And you're standing here beside me
I love the passing of time
Never for money, always for love
Cover up and say goodnight, say goodnight

Home, is where I want to be
But I guess I'm already there
I come home, she lifted up her wings
I guess that this must be the place

I can't tell one from the other
I find you, or you find me?
There was a time before we were born
If someone asks, this is where I'll be, where I'll be

We drift in and out
Sing into my mouth
Out of all those kinds of people
You got a face with a view

I'm just an animal looking for a home
And share the same space for a minute or two
And I love you till my heart stops
Love you till I'm dead

Eyes that light up
Eyes look through you
Cover up the blank spots
Hit me on the head

(David Byrne)


sábado, 10 de novembro de 2012

50 versões de amor e prazer: 50 contos eróticos por 13 autoras brasileiras

Participo com quatro contos, três deles inéditos.
 
 

As autoras que integram a antologia, cuja organização é de Rinaldo de Fernandes:

Ana Miranda
Ana Paula Maia
Andréa Del Fuego
Ana Ferreira
Állex Leilla
Cecilia Prada
Heloisa Seixas
Juliana Frank
Leila Guenther
Luisa Geisler
Márcia Denser
Marília Arnaud
Tércia Montenegro

terça-feira, 23 de outubro de 2012

Enterrem meu coração na curva do rio: carta das comunidades Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS

Nós (50 homens, 50 mulheres, 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, vimos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante de despacho/ordem de nossa expulsão/despejo expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS, conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, em 29/09/2012.
Recebemos esta informação de que nós comunidades, logo seremos atacada, violentada e expulsa da margem do rio pela própria Justiça Federal de Navirai-MS. Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver na margem de um rio e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay.
Assim, entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio/extermínio histórico de povo indígena/nativo/autóctone do MS/Brasil, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça Brasileira.
A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas?? Para qual Justiça do Brasil?? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados 50 metros de rio Hovy onde já ocorreram 4 mortos, sendo 2 morreram por meio de suicídio, 2 morte em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas. Moramos na margem deste rio Hovy há mais de um (01) ano, estamos sem assistência nenhuma, isolada, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Tudo isso passamos dia-a-dia para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay.
De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários os nossos avôs e avós, bisavôs e bisavós, ali estão o cemitérios de todos nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser morto e enterrado junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação/extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais.
Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal, Assim, é para decretar a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e para enterrar-nos todos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem morto e sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo de modo acelerado. Sabemos que seremos expulsas daqui da margem do rio pela justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo/indígena histórico, decidimos meramente em ser morto coletivamente aqui. Não temos outra opção, esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.
 
(Carta da comunidade Guarani-Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay-Iguatemi-MS para o Governo e Justiça do Brasil)

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Filhote de tartaruga

Você sabe o que é nascer só,
Filhote de tartaruga
O primeiro dia para erguer pouco a pouco seus pezinhos da concha,
Ainda não desperto,
E ficar caído na terra,
Não de todo vivo.
Um grão minúsculo, frágil, metade animado.
Para abrir sua minúscula boca de bico, que parece que nunca se abriria,
Como uma porta de ferro;
Para erguer o bico superior de falcão a partir da base mais baixa
E esticar seu pequeno pescoço fino
E dar sua primeira mordida em algum obscuro pedaço de erva,
Só, pequeno inseto,
Pequenino olho brilhante,
Vagaroso.
Para dar sua primeira mordida solitária
E continuar em sua lenta, solitária caçada.
Seu pequeno olho brilhante e escuro,
Sob sua pálpebra vagarosa, pequenino filhote de tartaruga,
Tão indomável.
Nunca ninguém o ouviu reclamar.
Põe sua cabeça para fora, lentamente, de sua pequena touca
E parte, arrastando-se devagar sobre seus pés de quatro alfinetes,
Remando devagar para frente.
Para onde, pequeno pássaro?
Tal qual um bebê mexendo os membros,
Só que você faz um progresso lento, demorado
E um bebê não faz nenhum.
O toque do sol o excita,
E as longas eras e o frio prolongado
Fazem-no parar para bocejar,
Abrindo sua boca impenetrável,
De repente em forma de bico, e todo aberto, como tenazes inesperadas e bocejantes;
Língua vermelha e macia e gengivas finas e firmes,
Então fecha a cunha de sua pequena fronte de montanha,
Seu rosto, filhote de tartaruga.
Surpreende-se diante do mundo quando volta, com vagar, sua cabeça em sua touca
E o vê com olhos negros, lacônicos?
Ou é o sono que o invade de novo,
A não vida?
Você é tão difícil de acordar.
É capaz de se surpreender?
Ou é apenas sua vontade indomável e o orgulho da vida inicial
Olhando ao redor
E com lentidão arremessando-se contra a inércia
Que parecera invencível?
A vastidão inanimada,
E o brilho suave do seu olho tão pequenino,
Competidor.
Não, pequenino pássaro de concha,
Que vastidão inanimada é essa contra a qual deve remar,
Que inércia incalculável.
Competidor,
Pequeno Ulisses, precursor,
Não maior do que a unha de meu polegar,
Buon viaggio.
Toda a criação animada sobre o seu ombro,
Avance, pequeno Titã, sob o seu escudo de batalha.
Quão vívida sua viagem parece agora, à luz do sol que se agita,
Átomo ulisseano, estoico;
De repente apressado, impulsivo sobre os dedos altos.
Pequeno pássaro sem voz,
Descansando sua cabeça metade para fora de sua touca
Na dignidade vagarosa de sua eterna pausa.
Só, sem a consciência de estar só,
E portanto seis vezes mais solitário;
Preenchido pela paixão lenta de arremessar pelos tempos imemoriais
Sua pequena casa redonda no meio do caos.
Sobre a terra do jardim,
Pequeno pássaro,
À margem de todas as coisas.
Viajante
Com sua cauda um pouco de lado
Como um cavalheiro de casaco rodado.
Toda a vida carregada no seu ombro,
Precursor invencível.
(D.H. Lawrence, tradução minha)

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

"No caminho do cisne" em espanhol

Conto meu em Las Malas Juntas, Venezuela

terça-feira, 31 de julho de 2012

"À noite" em espanhol

Conto meu na Fundación Tomás Eloy Martínez, da Argentina

quarta-feira, 4 de julho de 2012

A descoberta dos livros

Nasci um ano após a morte de meu avô Gracilia­no Ramos. Só fui conhecer sua obra depois de adulto. Meu pai, o também escritor Ricardo Ramos, quis que o lêssemos (meu irmão e eu) quando estivésse­mos prontos. Entenda-se isso por quando tivéssemos adquirido o hábito de leitura e fôssemos capazes de identificar, compreender e gostar de um bom texto. Ele achava, com razão, que o velho Graça não era um autor para crianças, nem fácil o suficiente para despertar o interesse de não iniciados.
As minhas mais remotas lembranças estão rela­cionadas com livros. Em casa, lia-se muito. Os velhos cedo encontraram uma forma eficiente de nos envol­ver com eles, através de um artifício inteligente. Era um tempo diferente. Pensem em cerca de quarenta e poucos anos atrás. Na época as crianças tinham horário para tudo, inclusive de ir para cama. Dia­riamente, às oito e meia da noite, quando cantavam na televisão, ainda em branco e preto, a musiquinha dos cobertores Parayba, não adiantava discutir. Em todas as casas, meninas e meninos de pijama e banho tomado dirigiam-se para seus quartos.
Conformados ou revoltados, arrastando ou ba­tendo os chinelos, reclamando o que podiam, após a odiada senha televisiva “Já é hora de dormir…”, levantavam-se e recolhiam-se para o sono diário. Não esperavam mamãe mandar. Meu irmão e eu, porém, gozávamos de um privilégio que talvez mui­tos de nossos amigos não tivessem: podíamos ficar acordados uma hora a mais, desde que em nossas camas, lendo.
Assim iniciamos o hábito de nossas vidas. Abastecidos sistematicamente por papai, sempre preocupado em nos alimentar com o que havia de melhor, rapidamente ampliamos em muito esse tempo dedicado aos heróis imaginários. Aquela hora inicial multiplicou-se em muitas. Líamos sempre que podíamos. Começamos, é claro, com Monteiro Lobato. Reinações de Narizinho foi o primeiro livro que li. Lembro que aos sete anos de idade pedi a minha avó Heloísa, viúva de Graciliano, que me contasse uma história. Ela começou a ler e depois terminei sozinho. A imagem que criei de Dona Benta, por sinal, foi guiada pelos sentimentos que tinha em relação à Vó Lozinha, como chamávamos vovó. O mesmo tipo de carinho, atenção aos netos, disposição para gastar tempo com eles. Eu gostava muito também de Tia Nastácia, admirava a audácia da Emília, era um pouco indiferente à Narizinho e queria ser igual ao Pedrinho. Achava o Visconde meio chato.
Monteiro Lobato durou boa parte de nossa infân­cia. Não se lançavam contra o autor as injustiças que se cometem hoje. Acusações ligeiras feitas a partir de frases sem o contexto de época, bastante diferente deste nosso, do mundo em que vivemos agora.
A nossa formação foi bem ampla. A coleção do Tarzan, de Edgar Rice Burroughs, chegou numa caixa, parecia um brinquedo. E realmente nos diver­timos muito com aquele homem meio-macaco. São também relacionadas a ele as primeiras lembranças que tenho de cinema. Influenciados tanto pelas aventuras que líamos, como pelo que víamos na tela grande, imitávamos, batendo no peito, o grito de desafio de Johnny Weissmuller.
Júlio Verne fez-nos olhar para o futuro, o contato inicial com um prenúncio de ficção científica. Coração, de Edmondo de Amicis, foi o primeiro livro que me fez chorar, tive um choque, a noção, ainda que intuitiva, de que estava frente a frente com um texto importante. E muitos outros autores: Mark Twain, Jack London, Viriato Correa, Daniel Defoe, Francisco Marins e Alexandre Dumas. O romance A ilha do tesouro, de Robert Louis Stevenson, foi uma de nossas paixões. Lembro da cara de papai quando nos entregou aquele tijolo, ele tinha a certeza da boa escolha.
Depois veio Moby Dick, de Herman Melville e até hoje, quando vejo o mar, lembro-me da grande baleia branca. Uma autora pouco conhecida no Brasil arrebatou nossos corações e mentes: Laura Ingalls Wilder. Era muito difícil parar de ler as aventuras daquela família de colonos americanos. Nossa hora permitida de leitura antes de apagar a luz rapida­mente foi burlada. Mamãe vinha dar boa noite, nos beijava, e retirava-se, fechando a porta do quarto. Ficávamos um tempo em silêncio. Então acendíamos nossos abajures e continuávamos, bem quietinhos, na casa da floresta, à beira do riacho, ou às margens da lagoa prateada. Era comum vararmos as madruga­das. A manhã várias vezes surpreendeu-nos trazendo o momento de irmos para a escola..
Aos poucos sem que percebêssemos, fomos migrando para obras adultas. Apareceram livros que mostravam o nosso idioma muito bem tratado, os nossos melhores clássicos: Machado de Assis, José de Alencar, José Lins do Rego, Jorge Amado, Rachel de Queiroz, Mário e Oswald de Andrade e, o óbvio, Graciliano Ramos. Papai, de maneira didática, falava alguma coisa sobre o autor que nos iria apresentar. Um dia ficamos sabendo que existia Ernest Hemingway. Visivelmente admirava aquele escritor mais do que a média. Indicou-nos primeiro O velho e o mar. Hoje, quando olho para trás, penso nos truques de Ricardo Ramos. Publicitário que foi, imagino ter usado técnicas de propaganda para vender o produto livro aos filhos.
O certo é que comprávamos direitinho as indica­ções dele. Quando concluímos Adeus às armas, Por quem os sinos dobram, Ilhas da corrente e Paris é uma festa, deu-se por satisfeito. Tinha começado o ciclo americano. Havia uma certa ordem a seguir. Conhe­cemos então Scott Fitzgerald e William Faulkner. E vieram os russos Turguêniev e Dostoiévski. Guerra e paz, de Tolstói, era a preferência maior de papai, declarada em todas as oportunidades. Mais tarde os ingleses Charles Dickens, Jane Austen, Conan Doyle e Virginia Woolf. Ler os franceses foi delicioso: Os Thibault, de Roger Martin du Gard, preparou o terreno, ótimo início, completado anos depois por Zola, Flaubert, Balzac, Stendhal e Proust. E passamos por todos os gêneros. Difícil escolher o meu livro, o de que mais gostei. Talvez A montanha mágica, de Thomas Mann.
Hoje, depois de percorrer incontáveis páginas, cheguei à conclusão que é fundamental variar. De­pois de uma obra difícil, um policial pode cair bem. Alternar contos com poesia, romances e ficção cien­tífica, novelas depois de teatro, melhora o cardápio substancialmente. Sempre leio alguma coisa antes de dormir. O hábito vindo da infância nunca me abandonou. Quando estou muito cansado, o sono batendo forte, pego alguma coisa mais leve. Daí a conveniência de se ter alternativas diferentes.
A consequência imediata de tanta leitura, na es­cola, foi escrever direito. Tanto meu irmão quanto eu tirávamos boas notas. Minhas redações eram sempre elogiadas. Havia uma professora, em especial, que ao terminar meus textos, lidos invariavelmente em voz alta na classe, o que me deixava encabulado e infeliz, dizia: “Filho e neto de peixe, peixinho é”. Sempre me incomodou essa frase. Pelo que guarda de inverídico, de falso, de injusto. Ouvi a vida toda falarem em genética. Peguei-me muitas vezes pensando sobre isso. Tenho irmãos que escrevem bem. Minha irmã, temporã, que nasceu dez anos depois da gente, seguiu o mesmo caminho. Tenho tios, primos e sobrinhos com textos publicados. Seria o sangue de Graciliano tão forte assim? Decididamente não. Aceitar essa ideia seria crer no mágico, no sobrenatural, fazer uma análise superficial sobre a realidade. Nada se constrói sem esforço. Quando somos competentes, há sempre uma razão concreta para isso. Ligada à força de vontade, ao estudo, ao trabalho pessoal.
Tenho amigos que se queixam dos filhos. Falam da falta de capacidade dos seus meninos, incapazes de dar sentido a uma frase. Pergunto então se gostam de ler. Não gostam. A resposta está aí. Em nossa família, nascemos e vivemos em casas rodeadas por livros. Gostamos de tudo num livro. Do formato, da textura, do cheiro. Estantes, livrarias, sebos, bancas de revistas e bibliotecas exercem tremendo fascínio sobre nós. Escrever bem, como já disse, é consequên­cia. Duvido que a carga sanguínea adiantasse alguma coisa se tivéssemos ficado longe da leitura.
Papai não acreditava em inspiração. Dizia que se fosse esperar a vontade chegar, não teria escrito. Poucos vi serem tão metódicos. Diariamente, de domingo a domingo, sentava-se para escrever. Dizia que era um trabalho como outro qualquer. Hora para começar e terminar, disciplina, planejamento. Com ele aprendi que é preciso estar atento ao cotidiano.
Tudo o que vai para o papel parte de observação. Era comum vê-lo agradecer. Dizia, sorrindo: “Obriga­do, você acaba de me dar um conto”. E corria para a máquina. Se os sons fazem parte de nossa memória, o martelar das teclas de ferro imprimindo as palavras ficou lá gravado para sempre. Ainda hoje sou capaz de ouvi-lo. E buscando no passado a sensação que me provocava, percebo que variava, não havendo um padrão único. Às vezes, um ritmo constante, triunfante, celebrando o resultado obtido, feliz. Espécie de música, os dedos de meu pai dançando no teclado da velha Remington. E então, como se houvesse um impedimento súbito, o ba­rulho metálico cessava por completo. Um silêncio pesado e triste pairava no ar. Segundos, minutos, instantes de incerteza. E o matraquear podia recomeçar cheio de ale­gria, ou não. E aí, como consequência da não aprovação do autor, a página corria rápida no rolo de impressão, era arrancada rispidamente do equipamento, e rasgada com resignação. A busca era retomada.
Com muita paciência, dia após dia, vi Ricardo Ramos atrás da precisão, da melhor maneira de dizer o que havia para ser dito, sem nunca perder o rigor, o valor estético, o bom gosto. Essa exigência extremada, na minha opinião, levou-o mais frequentemente ao conto do que a outro gênero. É fácil comprovar isso. Ele mes­mo tinha essa consciência: “Sou metódico no hábito de escrever. Capricorniano típico, apesar de não crer em horóscopo, gosto de escrever rapidamente a tarefa a que me propus, até para ficar livre dela e começar outra. Não que o texto não seja retrabalhado. Talvez com conto isso seja mais fácil, mais possivelmente finito, do que com romance”.
Muito de que li de papai parecia ser releitura, como se tivesse havido um contato anterior com aquele texto. Por dois motivos: o retrato do cotidiano muitas vezes compartilhado; o fato de em tantas ocasiões ouvir a leitura do texto, em voz alta, para mamãe. Opinião bastante presente, capaz de sugerir alterações e avaliar. O autor sempre anseia por uma resposta, quer mostrar o que produziu, precisa de público. Talvez por isso eu utilize tanto a facilidade de ter um blog. Os comentários são quase que imediatos.
Sempre me perguntam qual obra prefiro de Ricardo Ramos. Há nos dias de hoje uma necessidade imediata de classificação. Fugindo um pouco dos contos, sua especialidade, tenho um carinho especial pela novela Os caminhantes de Santa Luzia. Depois de ler esta história várias vezes, percebi que poderia, facilmente, ser filmada. Trabalhei um bom tempo no roteiro. Acabo de concluí-lo.
Convivi com escritores em casa. Gostava de ficar quieto, num canto, escutando as discussões literárias que muitas vezes aconteceram lá. Nas feijoadas de sábado compareciam, com maior ou menor assiduidade, gente como José Paulo Paes, Osman Lins e Julieta de Godoy Ladeira, Ignacio de Loyola Brandão, Raduan Nassar, os irmãos Marcos Rey e Hernâni Donato, Lygia Fagundes Telles, Fábio Lucas, Gilberto Mansur e Vivina de Assis Viana.
Entre as várias histórias que ouvi sobre meu avô, uma sempre é comentada e está entre as mi­nhas preferidas. Em janeiro de 1929, então com trinta e sete anos, Graciliano enviou ao governador de Alagoas o relatório de prestação de contas do município de Palmeiras dos Índios, onde exercia o cargo de prefeito. Esse texto, com muita qualidade literária, chegou às mãos do poeta e editor Augus­to Frederico Schmidt. Impressionado, procurou o autor para saber se ele tinha outros escritos que pudessem ser publicados. O livro Caetés estava na gaveta, aguardando oportunidade. Schmidt rece­beu os originais e partiu, no mesmo dia, para uma noitada na Lapa. Mais tarde, atarantado, percebeu haver perdido aquela cópia. Um ano depois, Jorge Amado, o ilustrador Santa Rosa, José Américo de Almeida, e o intelectual e militante comunista Alberto Passos Guimarães, amigos e admiradores de Graciliano, insistiram na edição do romance, e Schmidt encontrou-o esquecido no bolso de uma capa de chuva. Finalmente, a publicação aconteceu, mas a fama de editor desorganizado ficou.
E então eu estava pronto, resolvi reler Graciliano. O contato com a obra de meu avô foi o mais diferente dos impactos com textos que eu tive. Ele dizia as coisas de maneira tão característica que dispensava assinatura. Eu podia identificar qualquer parágrafo lido, em qualquer lugar, isolado, como sendo dele. Aos poucos, avançando página após página, conse­gui abandonar o orgulho bobo de neto. Consegui analisá-lo como escritor, guardar distância suficiente para ler, apenas ler. E aquele parente do qual ouvira falar a vida toda perdeu o distanciamento e ganhou uma intimidade real. Deixou de ser o avô imaginado, o motivo de vaidade na escola, o herói das histórias que vovó contava, o vovô Grace. Passou a ser o escritor Graciliano Ramos, com a reverência respei­tosa devidamente guardada. Exemplo impossível e possível. A consciência de que ninguém escreverá como ele. O ensinamento de que o texto é para ser trabalhado e retrabalhado. Enxuto. Que as palavras não obedecem ao acaso, há sempre um jeito melhor de se apresentar uma ideia e temos de encontrá-lo, procurá-lo à exaustão. Escrever não é fácil, é penoso e preciso. E então percebi a necessidade de escrever. Procuro, modestamente, seguir os conselhos que Graciliano deu em entrevista concedida em 1948: “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar, como ouro falso; a palavra foi feita para dizer”.

(Ricardo Ramos Filho, “A descoberta dos livros”. Relatórios do prefeito de Palmeira dos Índios Graciliano Ramos. Duetto Editorial)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

O que os pit bulls podem nos ensinar sobre criminalidade

(...) Claro que nem todos os pit bulls são perigosos. A maioria não morde ninguém. Enquanto isso, os dobermanns, dogues alemães, pastores-alemães e rottweilers são mordedores frequentes também, e o cachorro que dilacerou uma francesa fazendo com que recebesse o primeiro transplante de rosto do mundo foi, por incrível que pareça, um labrador. Quando dizemos que os pit bulls são perigosos, estamos fazendo uma generalização, assim como as seguradoras usam generalizações quando cobram mais caro dos homens jovens pelo seguro automobilístico e os médicos usam generalizações quando recomendam aos homens obesos de mais-idade que verifiquem a taxa de colesterol (embora muitos homens obesos de meia-idade jamais sofrerão de problemas cardíacos). Como não sabemos qual cão morderá alguém, quem sofrerá um ataque cardíaco ou quais motoristas vão se envolver em acidentes, só podemos fazer previsões generalizando. (...)
Outra palavra para generalização, porém, é estereótipo, e os estereótipos não costumam ser considerados dimensões desejáveis de nossas tomadas de decisão. O processo de passar do específico ao geral é ao mesmo tempo necessário e perigoso. Um médico poderia, com algum respaldo estatístico, generalizar sobre homens de certa idade e peso. Mas e se a generalização de outros traços – como pressão arterial alta, histórico familiar e tabagismo – salvasse mais vidas? Por trás de cada generalização está uma opção de quais fatores incluir e quais excluir, e essas opções se mostram surpreendentemente complicadas. Após o ataque a Jayden Clairoux, o governo de Ontário optou por generalizar sobre os pit bulls. Mas poderia também ter optado por generalizar sobre cães fortes, sobre os tipos de pessoas que têm cães fortes, sobre crianças pequenas ou sobre cercas no quintal – ou, na verdade, sobre várias outras coisas ligadas a cães, pessoas e lugares. Como saber se fizemos a generalização certa?
(...)
A proibição de pit bulls envolve um problema de categoria também, porque os pit bulls, na verdade, não são uma raça única. O nome se refere a cães pertencentes a várias raças relacionadas, como terrier Staffordshire americano, o Bull terrier Staffordshire e o pit bull terrier americano – todos compartilhando um corpo quadrado e musculoso, um focinho curto e um pelo luzidio e curto. Desse modo, a proibição de Ontário inclui não apenas essas três raças, mas qualquer “cão que tenha uma aparência e características físicas que sejam substancialmente semelhantes” a elas. O termo técnico é cães do “tipo pit bull”. Mas o que isso significa? Um cruzamento entre um pit bull terrier americano e um golden retriever é um cão tipo pit bull ou do tipo golden retriever? Se pensar em terriers musculosos como sendo pit bulls é uma generalização, pensar em cães perigosos como sendo substancialmente semelhantes a pit bulls é uma generalização sobre uma generalização.
(...) Os pit bulls não foram criados para atacar seres humanos. Pelo contrário: um animal que atacasse os espectadores, seu treinador ou qualquer das pessoas envolvidas no adestramento de cães de briga costumava ser sacrificado. (A regra no mundo dos pit bulls era: “Devoradores de homens devem morrer.”)
Um grupo sediado na Geórgia chamado American Temperament Test Society (ATTS) submeteu 25 mil cães a um exercício padronizado de 10 etapas projetado para avaliar a estabilidade, a timidez, a agressividade e a cordialidade de um cão em companhia humana. Um treinador conduz o cão numa guia de 1,80m e julga sua reação a estímulos como tiros, um guarda-chuva se abrindo, um estranho em trajes esquisitos se aproximando de forma ameaçadora. Oitenta e quatro por cento dos pit bulls submetidos ao teste passaram, o que situa os pit bulls à frente de beagles, airedales, collies barbudos e todas as variedades do dachshund exceto uma. “Testamos cerca de mil cães do tipo pit bull”, diz Carl Herkstroeter, presidente da ATTS. “Eu testei a metade. E daqueles que testei reprovei um só pit bull por tendências agressivas. Eles se saíram muito bem. Eles têm um bom temperamento. São muito bons com crianças.” Pode-se até argumentar que os mesmos traços que tornam o pit bull tão agressivo com outros cães fazem com que sejam tão bons com seres humanos. “Existem vários pit bulls que são cães terapeutas licenciados”, observa a escritora Vicki Hearne. “Sua estabilidade e determinação fazem com que sejam excelentes no trabalho com pessoas que poderiam não gostar de um tipo de cachorro mais animado e volúvel. Quando os pit bulls resolvem confortar, são tão determinados quanto na luta, mas determinados em ser gentis. E como não sentem medo, podem ser gentis com qualquer um.”
Então quais são os pit bulls que se metem em confusão? “Aqueles visados pela legislação possuem tendências agressivas que são geradas pelo criador, ensinadas pelo treinador ou reforçadas pelo dono”, diz Herkstroeter. Um pit bull violento é um cão que ficou assim em decorrência da reprodução seletiva, do cruzamento com uma raça maior e agressiva com os seres humanos, como pastores-alemães ou rottweilers, ou do condicionamento que os leva a expressar hostilidade contra seres humanos. Portanto um pit bull é perigoso para as pessoas não na medida em que expressa sua natureza essencial de pit bull, mas na medida em que se desvia dela. Uma proibição é uma generalização sobre uma generalização sobre um traço que, na verdade, não é geral. Eis um problema de categoria.

(Malcom Gladwell, O que se passa na cabeça dos cachorros. Trad. Ivo Korytowski. Rio de Janeiro, Sextante, 2010)

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Build a bridge to her


(Björk, "Sacrifice", Biophilia)

sábado, 21 de abril de 2012

Porque Frida Kahlo existiu

(Frida Kahlo, Diego e eu)

Quando Frida era criança, esta casa era branca e vermelha. Uma grande casa de família arruinada. O pai, Guilhermo, fotógrafo nascido na Alemanha, tinha de gastar muito do seu tempo a fazer retratos de famílias para ganhar dinheiro. A mãe, Matilde, foi ensombrando entre os partos, e foram cinco (o único bebé varão morreu).
Mas havia irmãs e amigos, o espírito insolente do grupo de escola, este jardim de árvores tropicais, a rua onde bulia uma intimidade mexicana, indígena, arcaica. Coyoacán foi o mundo de Frida como o Yorkshire foi o mundo de Emily Brontë. E tal como Emily também Frida cresceu a saber o que poucos aprendem: que o amor é o mais forte instinto de sobrevivência, mais forte do que a fome.
Ela não se apaixonou inesperadamente por Diego. Em adolescente ouviu falar naquele Pantagruel tantos anos mais velho, várias vezes casado e separado e pai de filhos, e decidiu que seria ele. Então apareceu-lhe no ateliê, diz a lenda.
As pessoas normais perdem tempo a pensar no que deviam ter feito, e algumas pessoas vêem o que há a fazer como uma pedra. Ser diferente podia ter acabado com Frida, mas ela estava destinada a viver contra todas as previsões. De uma forma um pouco cosmogónica – mas estar aqui ajuda-nos a não ter medo disso –, estava destinada a alterar para sempre o México. Porque Frida Kahlo existiu, o México é mais forte, mais complexo, mais desarmante. Na dor como no riso, ela continua os deuses e portanto é o futuro.
É uma crença antiga, a de que os deuses marcam os seus. Frida tornou-se diferente logo em criança, quando uma poliomielite a deixou com uma perna atrofiada. Frida perna-de-pau, cantavam as crianças. As crianças, todas as crianças, são ajudantes de deuses, marcam os diferentes. Olhem para os retratos de Frida, ela está quase sempre de saia até os pés. Vem daí aquele lema, que não tem nada de ressentimento e tem tudo de vitalidade: defenderse de los cabrones.
E Diego – principio / constructor / mi niño / mi novio / pintor / mi amante / “mi esposo” / mi amigo / mi madre / mi padre / mi hijo / yo / universo – foi esse instinto primordial que a fez levantar o pescoço mesmo depois de 35 operações à coluna, vários abortos, a amputação dos dedos do pé e a seguir da perna.
Talvez, se um deus a marcou, outro lhe tenha dado Diego para que ela encontrasse a cada dia uma razão maior. Se assim foi, Frida Kahlo sobreviveu devido a Diego Rivera, mas Diego existiu para que Frida Kahlo vivesse.

(Alexandra Lucas Coelho, Viva México. Edições
Tinta-da-China, 2010)

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Partes homólogas

A história que escrevi sobre os irmãos siameses Wang e Chu, "Partes Homólogas", já está no número 13 de Desenredos.

Cicatrizes doem



3
Sou lírica.

Trago lábios tensos e a lâmina que barbeou
meu pai a quem beijei antes da morte.

Meses inteiros na câmara escura, a luz
me remete a impropérios de toda ordem.

Sou lírica.

4
Estrume no canteiro dos mortos, olho
encantada essa desintegração, esse novo
alimento. Somos nós a nova geração de seres
que se alimentam de veneno puro, três doses
de veneno puro e só existem chapéus e um
canal que liga as Américas. A minha fonte
primordial anda suspensa, na corda bamba
da decadência: Veneza sucumbindo às águas.
Trago na mala a navalha com a qual retalhei
meu pai. Era tarde? Mastiguei um pouco da
carne e os cães brancos me perseguiram.
Nevava nos trópicos, os rios congelando e eu
correndo e pulando de um bloco para outro.
Lavei o sangue da navalha no canal que liga as
Américas.


(Adriana Versiani dos Anjos. A lâmina que matou meu pai. Edições Lâminas do Brasil. Belo Horizonte, 2012)

quinta-feira, 8 de março de 2012

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

Desmontando a árvore






As boas leituras de 2011

1. 1933 foi um ano ruim, de John Fante. Trad. Lúcia Brito. Porto Alegre, LP&M. 2003.



2. 28 contos, de John Cheever. Trad. Jório Dauster e Daniel Galera. São Paulo, Companhia das Letras, 2010.


3. A fazenda africana, de Karen Blixen. Trad. Claudio Marcondes. São Paulo, Cosac Naify, 2005.



4. De verdade, de Sándor Márai. Trad. Paulo Schiller. São Paulo, Companhia das Letras, 2008.



5. Desonra, de J.M. Coetzee. Trad. José Rubens Siqueira. São Paulo, Companhia das Letras, 2000.



6. Doutor Pasavento, de Enrique Vila-Matas. Trad. José Geraldo Couto. São Paulo, Cosac Naify, 2010.



7. Hiroshima, de John Hersey. Trad. Hildegard Feist. São Paulo, Companhia das Letras, 2002.


8. O buda do subúrbio, de Hanif Kureishi. Trad. Celso Nogueira. São Paulo, Companhia das Letras, 1992.



9. O coração é um caçador solitário, de Carson McCullers. Trad. Sônia Moreira. São Paulo, Companhia das Letras, 2007.



10. O náufrago, de Thomas Bernhard. Trad. Sergio Tellaroli. São Paulo, Companhia das Letras, 2006.



11. Partículas elementares, de Michel Houellebecq. Trad. Juremir Machado da Silva. Porto Alegre, Sulina, 1999.



12. Samarcanda, de Amin Maalouf. Trad. Denise Bottman. São Paulo, Brasiliense, 1991.



13. Para ler como um escritor, de Francine Prose. Trad. Maria Luiza X. de A. Borges. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2008.



14. The hound of the Baskervilles, de Arthur Conan Doyle. London, Penguin, 2009.



15. Uma passagem para a Índia, de E.M. Forster. Trad. Cristina Cupertino. São Paulo, Globo, 2005.

terça-feira, 3 de janeiro de 2012

Um poema de presente

O TEMPLO DE LEILA E A CHAVE QUE PERDI


para Leila Guenther



Noite de pouquíssimas estrelas, cavalos trotam ladeira abaixo,
Leila não escreve.
Imagino-a,
seu sopro é forte.

Cabelos negros e os brincos que lhe trouxe no último Natal.
Tenho esperança:
porque ainda não me foi permitido o poema, porque o
                      [poema não é para mim que roço entre
                 [as pedras da rua esse graveto retirando
                        [gramíneas ou planta rasteira, que porventura
                                                     [cresça ali, naquele espaço.
Sei Leila que me cobre com seus cabelos negros e de seus
                                           [brincos que tocam minha testa.
Ouço o ar que ela respira, como no último Natal.
Cavalos trotam e uma pulsação ladeira acima.
São muitos os telhados.
Imagino-me.

O sol trinca a superfície, mina uma água da parede lateral
                  [do abrigo e as mãos de Leila estão marcadas.
Desenho círculos de giz no cimento do quintal.
Quando nasci deixaram-me na piscina ligada aos azulejos
                                                                          [do fundo.
Meus olhos são azuis e não preciso respirar.
A fumaça negra cobre a água.
Leila me afaga com suas marcas.

Feridas nas pontas dos dedos.
Tenho esperança.
Uma luz queimou meus olhos que desaprenderam a ler.
Meio dia, Leila e o som de seus cabelos espalham poeira
                                                                      [de minério.
Bateias esquecidas na margem do rio,
balaios.
Ouço os ferros.
Imagino-me.

(Adriana Versiani dos Anjos, Dezfaces n.3, Belo Horizonte, junho/julho 2011)

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

A permanência do figurativo II: Andrew Wyeth

Christina's Teapot




Master Bedroom


Winter Fields


Long Limb




Ides of March



Geraniums






Christina's World




Wind from the Sea




Helga




And bells on her toes