domingo, 30 de novembro de 2014

Outras ruminações: 75 poetas e a poesia de Donizete Galvão


Participam do volume:
ADOLFO MONTEJO NAVAS
ALBERTO BRESCIANI
ALBERTO MARTINS
ALESSIO BRANDOLINI
ALEXANDRE BONAFIM
ALEXANDRE GUARNIERI
ÁLVARO ALVES DE FARIA
ANDRÉ LUIZ PINTO
ANDRÉ VALLIAS
ANDRÉA CATROPA
ANNITA COSTA MALUFE
ANTONIO CARLOS SECCHIN
ARIANE ALVES
BRUNO BRUM
CARLOS AUGUSTO LIMA
CARLOS FELIPE MOISÉS
CARLOS LORIA
CARLOS MACHADO
CHANTAL CASTELLI
DALILA TELES VERAS
DINIZ GONÇALVES JUNIOR
DIRCEU VILLA
DONIZETE GALVÃO
EDIMILSON DE ALMEIDA PEREIRA
EDUARDO LACERDA
EDUARDO STERZI
ELISA ANDRADE BUZZO
FABIANO CALIXTO
FABIO WEINTRAUB
FABRÍCIO MARQUES
GILBERTO NABLE
GUILHERME GONTIJO FLORES
HEITOR FERRAZ MELLO
HELENA TERRA
IACYR ANDERSON FREITAS
ITALO MORICONI
JOÃO FILHO
JÚLIA STUDART
JÚLIO CASTAÑON GUIMARÃES
JÚLIO MACHADO
KLEBER MANTOVANI
LEANDRO SARMATZ
LEILA GUENTHER
LEONARDO GANDOLFI
LILIAN AQUINO
LUIS AGUILAR
LUIZ GONZAGA
LUIZ ROBERTO GUEDES
LUIZ RUFFATO
MANOEL RICARDO DE LIMA
MARCOS SISCAR
MARIO ALEX ROSA
MOACIR AMÂNCIO
NINA RIZZI
PÁDUA FERNANDES
PAULO FERRAZ
PRISCA AGUSTONI
PRISCILA FIGUEIREDO
RENAN NUERNBERGER
REYNALDO DAMAZIO
RICARDO RIZZO
RODRIGO PETRONIO
RONALD POLITO
ROSA MATTOS
ROSANA PICCOLO
RUY ESPINHEIRA FILHO
RUY PROENÇA
SÉRGIO ALCIDES
SIMONE BRANTES
SÔNIA BARROS
TARSO DE MELO
TULIO VILLAÇA
VERA LÚCIA DE OLIVEIRA
VERONICA STIGGER
VICTOR DEL FRANCO
VICTOR OLIVEIRA MATEUS

O lançamento é no dia 9 de dezembro, a partir das 19h, na Casa das Rosas (Av. Paulista, 37)

domingo, 16 de novembro de 2014

Comer a Arte


Tenho uma amiga – excelente cozinheira – que diz que alimentar pessoas é um dom. Mas acho que quem é alimentado também recebe uma dádiva. Porque se trata de algo que transforma tanto quem prepara o alimento quanto quem o come. E isso eu percebi com mais clareza quando uma vizinha (também excelente cozinheira) trouxe os sushis que seu filho, um rapaz que conheci menino, tinha preparado. Ele é sushiman. Eu já os tinha experimentado antes. Da primeira vez, tive a certeza de que era a melhor comida japonesa que eu já provara. Da segunda, não apenas japonesa, mas a melhor de todas, e que o que eu estava comendo era Arte. Naquele momento, deu-se a transformação de que falo acima: minhas atribulações sumiram. A felicidade mora num sushi, concluí, e eu queria ser feliz de novo, de modo que fui até o restaurante onde ele trabalhava. Como falar de sabor? Como, com palavras, dar a dimensão do que não pode ser dito? A descrição mais próxima que eu conseguiria seria esta: eu estive na Festa de Babette. Quem leu o conto ou viu o filme talvez consiga ter uma ideia. Penso também no documentário O Sushi dos Sonhos de Jiro, sobre Jiro Ono, considerado o melhor sushiman do mundo. Jiro revela seu trabalho incansável de shokunin, de fazer todos os dias da vida a mesma coisa em busca da perfeição sem saber se, aos 86 anos, a alcançará: “Vou continuar a escalada, tentando atingir o topo. Mas ninguém sabe onde ele fica!” Então penso no que esse rapaz estará criando quando tiver 86 anos. Jiro diz que sonha com sushis. Eu também.

(leila guenther)

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

sexta-feira, 7 de novembro de 2014

Dois poemas de Donizete Galvão


Solilóquio de Nina Simone

Habitou-me um deus espesso.
Sangue cor de fígado.
Veneno talhado, macerado e amargoso.
Fez morada em cada célula.
Nos alvéolos, nas entranhas, sob as unhas.
Expande a veia do pescoço.
Sangra pelas gengivas.
Lateja nas têmporas e nos pulsos.
Planta arrancada da terra africana,
deita suas raízes fundas de baobá
e traz gosto de lama à boca.
Tem sabor atávico a relembrar
o lodo de que se originou o homem.

Habitou-me um deus exigente,
que me fere e exaspera.
Que espezinha o que eu era.
Que fala o que eu não pensara
e, dizendo-me ao contrário,
faz-me gostar do calvário
que, às cegas, eu criei.
Nomeio que não tem nome:
Raio de Iansã, trovão, ciclone,
Sopro de Orixá, c’est moi
Nina Simone.




Recomendações

Ao cavaleiro desencarnado,
com sua égua de gás hélio,
recomendo ouro, prata e chumbo.
No meio do seu caminho,
mero pedregulho transmuta-se
em rocha, penedo, penhasco.
Mínima ponta de agulha fura
sua armadura hiperbovárica.
Nem figos envenenados
sustentam-lhe  a fome.
Tudo o que toca
some. Evapora-se.
Ponha os pés no chão,
para que o minério de ferro
neles sedimente e forme um casco.
Ninguém vai ouvir falar do seu nome.
Escute o resumo de sua vida:
um espasmo, um sopro que não soa
além da grade de sua casa.

(Donizete Galvão)