quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

Faz frio demais quando estamos sozinhos

Meus textos nesta edição da revista que me publicou pela primeira vez, há mais de dez anos, a Germina - Revista de Literatura & Arte. Está lá o ainda inédito em livro “Poeminha criacionista”, escrito "à chilena".






quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Auf Dem Weg zum Schwan

Meu conto "No caminho do cisne" na antologia de autores brasileiros traduzidos para o alemão, a Grenzenlos, que significa "sem limites", "sem fronteiras".



quarta-feira, 30 de novembro de 2016

domingo, 27 de novembro de 2016

sexta-feira, 18 de novembro de 2016

"God has a voice, she speaks through me"


 (CocoRosie, Live in Théâtre des Bouffes-du-Nord)

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Dois poemas de Ruy Proença

AOS QUE TORTURAMOS NOSSA MÃE

eu queria ser outra
queria ter nascido
em outro lugar
queria viver
onde não houvesse
sofrimento
onde todos me olhassem
através de olhos claros
onde as mãos
fossem quentes
e me procurassem
queria não ver mais
em meu espelho
a desconfiança o terror
queria ouvir
outra língua
que não tivesse
as palavras
agora ouvidas
sons que me ferem
e me fazem fugir
queria outros tetos
para me abrigar
outras árvores
para me dar sombra
queria outro céu
mais próximo
outras águas
que me embalassem




CASA E BULLDOZER NA FAIXA DE GAZA

casa:
abrigo
onde circulo
lambendo sonhos
desarmado
– meu repouso;
quarteto de cordas em caramujo
onde sou fome e pão
ainda que me destempere
onde me reconheço nas manchas
de sangue café vômito sexo memória
onde estão meus avós ausentes
minha mãe ausente
meu pai irmãos amigos
eu a mulher os filhos
a ideia mesma de amor
tudo o que se dispersa
com a fumaça do cachimbo
meus objetos obesos
minhas quinquilharias
canetas chapéus selos pedras
meus livros meus papéis meus tijolos
minhas âncoras
meu cão ausente

bulldozer:



(Ruy Proença, Caçambas. São Paulo, Editora 34, 2015)




quinta-feira, 3 de novembro de 2016

58o Jabuti


Viagem a um deserto interior, meu livro de poemas e haicais, está entre os finalistas do Prêmio Jabuti 2016, na categoria Poesia: 


Acerto de Contas – Autor: Thiago de Mello – Editora: Global

Agora Aqui Ninguém Precisa de Si – Autor: Arnaldo Antunes – Editora: Companhia das Letras

Antologia da Poesia Erótica Brasileira – Autor: Eliane Robert Moraes (organização) – Editora: Ateliê Editorial

As Rugosidades do Caos – Autor: Luis Dolhnikoff – Editora: Quatro Cantos

Da Lua Não Vejo a Minha Casa – Autor: Leonardo Aldrovandi – Editora: V. de Moura Mendonça Livros (Selo: Demônio Negro)

Manual de Flutuação para Amadores – Autor: Marcos Siscar – Editora: 7Letras

Ópera de Nãos – Autor: Salgado Maranhão – Editora: 7Letras

Pig Brother – Autor: Ademir Assunção – Editora: Editora Patuá

Sermões – Autor: Nuno Ramos – Editora: Iluminuras

Treme Ainda – Autor: Fabio Weintraub – Editora: Editora 34

Tróiades – Remix Para o Próximo Milênio – Autor: Guilherme Gontijo Flores – Editora: Editora Patuá

Versos Pornográficos – Autor: Chico César – Editora: Confraria do Vento

Vertigens – Autor: Wilson Alves Bezerra – Editora: Iluminuras

Viagem a um Deserto Interior – Autor: Leila Guenther – Editora: Ateliê Editorial

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

De pedra e areia

Ao conhecer Leila Guenther, inevitável pensar em sua herança oriental. Apesar do sobrenome do pai alemão, Leila tem ascendência japonesa por parte de mãe. E aí vêm os estereótipos sobre quem tem uma outra etnia e é mulher, no Brasil. Pensa-se primeiro na etnia e a seguir no gênero para tentar definira que grupo o autor pertence. Mas a poesia de Leila foge dos estereótipos, deixando-se tocar de leve pelo charme de pertencer a uma etnia milenar e ser feminina.
Viagem a um Deserto Interior é dividido em cinco partes: Paisagens de DentroO Deserto AlheioCastelo de AreiaUm Jardim de Pedra e A Possibilidade do Oásis. Cada parte está relacionada com um tema contemporâneo: solidão, o Outro, o estranhamento do cotidiano, o zen-budismo e amor. A autora publicou um primeiro livro, de ficção  O Voo Noturno das Galinhas pela Ateliê Editorial, que acaba de ser lançado em uma edição portuguesa.  O livro foi um dos 17 contemplados pelo Prêmio Petrobrás Cultural de 2012.

De acordo com o poeta e crítico Alcides Villaça, Viagem a um deserto interior contém “um espanto de vida a um tempo estoico e dilacerado, ressurgido de incêndios, vingando um calar histórico. Urro e desprezo podem acalantar a criatura ofendida, as inquietudes podem se abrigar numa forma zen, a paisagem contemplada pode guardar uma guerra dentro.” O deserto explicita a metáfora do esforço zen-budista, visto no jardim seco zen-budista. A mente é como o jardim e das pedras e areias pode surgir um mundo mais profundo. As angústias não deixem de ser belas, porque constituem a beleza da paisagem humana. Dominadas, nada resta a não ser contemplá-las, em doce abandono.

Leila Guenther é formada em Letras pela Universidade de São Paulo e autora do livro de contos O Vôo Noturno das Galinhas (Ateliê Editorial), traduzido para o espanhol (Borrador Editores) e em Portugal.  Este lado para cima,(Sereia Ca(n)tadora, Revista Babel). Participou de  antologias de contos e poesia.  Para os palcos de Robert Wilson, adaptou a peça A dama do mar, de Susan Sontag (N-1 Publications), baseada em Ibsen, e traduziu A velha, adaptação de Darryl Pinckney para uma novela de Daniil Kharms.




CIMENTO
Todas as fotos sumiram.
Seu rosto se desfez
como um muro aos poucos encoberto pelo musgo,
um muro cada vez mais rabiscado,
que vai perdendo a pintura,
até desabar com os anos de chuva e descuido
e deixar entrever a casa abandonada.

Uma foto apenas
- quase derruída -
reside em algum lugar de mim
tornado árido e áspero.
Um instantâneo
onde seu rosto se debruçava
sobre o meu
enquanto desaparecíamos.

Penso se o cachorro,
aquele cão que se perdeu na mudança,
hoje também se lembraria de seu rosto futuro.

domingo, 17 de julho de 2016

O sexo dos peixes

O livro 69: Antología de Microrrelatos Eróticos (Ediciones Altazor) será lançado no dia 23 de julho de 2016 na Feira Internacional do Livro de Lima, no Peru, às 17h, na Sala Clorinda Matto de Turner. Participo dele com um conto traduzido para o espanhol sobre a vida sexual dos peixes lophiiformes.



domingo, 26 de junho de 2016

A viagem do redescobrimento

Atacama. A ausência aqui se reflete em intermináveis quilômetros de sal, pedra e areia. O céu, como descreveu Paul Bowles a respeito de um certo deserto e como imagino ser o céu de todos eles, é quase sólido, e também espelha o vazio. O deserto engole tudo, transforma tudo em sua própria imagem. Assimilou os restos de animais marinhos e os ossos dos prisioneiros políticos que as mães teimam em procurar, num minucioso trabalho arqueológico. Aqui, no lugar mais seco do mundo, nós, vivos, também nos convertemos maravilhosamente em matéria mineral. Em terra, em pó, em cinza, em nada.


sexta-feira, 17 de junho de 2016

Do deserto



(Carlos Augusto Lima, Motociclista do globo da morte. 1973 edições)

Do baralho




(Roberto Amaral, 54 [+ uma] mulheres do baralho. Vitória, Cousa, 2015)

quinta-feira, 19 de maio de 2016

quarta-feira, 11 de maio de 2016

Leitura para tempos sombrios

 

A partir de diferentes recursos como notícias de jornal, monólogos, imagens e notas de rodapé que abrangem o período de 1973 a 2015, Luz Sciolla (Chile) integra, em Retratos Hablados, realidade e ficção na composição de uma obra polifônica - sobre o abuso de poder - a cuja totalidade só se chega paradoxalmente por meio da fragmentação.




terça-feira, 10 de maio de 2016

Radiohead por Paul Thomas Anderson



Daydreaming

Dreamers
They never learn
They never learn
Beyond the point
Of no return
Of no return

And it's too late
The damage is done
The damage is done

This goes
Beyond me
Beyond you
The white room
By window
Where the sun goes
Through

We are
Just happy to serve
Just happy to serve
You

Evol ym dnuof ev'I
Evol ym dnuof ev'I
Evol ym dnuof ev'I
Evol ym dnuof ev'I
Evol ym dnuof ev'I
Evol ym dnuof ev'I
Evol ym dnuof ev'I
Evol ym dnuof ev'I

Evol ym dnuof ev'I
Evol ym dnuof ev'I
Evol ym dnuof ev'I
Evol ym dnuof ev'I
Evol ym dnuof ev'I
Evol ym dnuof ev'I
Evol ym dnuof ev'I
Evol ym dnuof ev'I

segunda-feira, 2 de maio de 2016

quarta-feira, 23 de março de 2016

Criando mundos

Como meu material de trabalho é a palavra, a linguagem escrita, sempre me intrigou o funcionamento das artes que lidam com outro tipo de matéria-prima, como a música ou as plásticas. Costumo pensar em mundos criados pelo Verbo. Enredos, tramas, enfim, todo o entrelaçamento de ideias que habita uma cabeça. O trabalho de Paulo Sayeg, no entanto, conta para mim essa mesma história, a história da Criação, mas através da imagem. Não a do mundo como ele é, mas como o Criador o vê. Seu traço perfeito, em vez de estabelecer limites, rasga como uma navalha as fronteiras entre o real, realista, e o irreal, fantástico, mágico, para criar algo que na verdade não é uma coisa nem outra, mas algo único, que tem sua própria verossimilhança, suas próprias regras, uma espécie de universo à parte, ou outra dimensão. Paulo Sayeg é um criador de mundos. E, uma vez que adentramos neles, já não queremos mais sair.

(Texto que escrevi sobre Paulo Sayeg, que ilustrou meu livro de poemas, a propósito da sua exposição na Acierno, que começa hoje)


(ilustração de Paulo Sayeg para Viagem a um deserto interior, Ateliê Editorial, p. 39)

quinta-feira, 10 de março de 2016

El Botón de Nácar

A lembrança cinematográfica mais pungente do ano de 2015 se relaciona com duas imagens de El Botón de Nácar, de Patricio Guzmán, autor do soberbo Nostalgia de la Luz, no qual se traça um paralelo entre povos indígenas da Patagônia que mantinham uma profunda relação com o mar (que os chilenos perderam, apesar da extensão de seu litoral), exterminados durante o processo “civilizatório”, e prisioneiros políticos exterminados durante a ditadura militar (arremessados de aviões e helicópteros) neste mesmo mar do sul, convertido, portanto, em cemitério: a pintura corporal de um dos povos retratados no documentário, os Selknam, e a expressão de Gabriela Paterito, remanescente dos Kawésqar, ao afirmar que sua língua nativa não conhecia palavras nem para deus nem para polícia: “Não precisávamos deles”, diz ela.



sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Quatro poemas de Vicente Huidobro

O poeta chileno traduzido por Marcelo Donoso e por mim na revista Zunái.

(Retrato de Huidobro por Picasso)

No jornal Estado de Minas





7 poetas hoje
Literatura brasileira contemporânea tem lançamentos de obras de fôlego no campo da poesia. O poeta e professor Mario Alex Rosa fez uma seleção de trabalhos escritos por mulheres
A poesia brasileira contemporânea vai bem, obrigado. Essa afirmativa assim, tão sem ajustes, pode dar a entender que tudo é sinal de qualidade. O que se pode notar hoje é que existem muitas publicações, inclusive com o crescimento de pequenas editoras. Fazer a varredura dessa enorme quantidade de livros é tarefa difícil, complexa e um tanto perigosa, pois qualquer reparo que um crítico possa fazer a um livro de um poeta contemporâneo pode condenar este a um dos círculos infernais de Dante. Ou mesmo quando cita apenas alguns, omitindo outros, como é o caso aqui, a cabeça do crítico pode ir a prêmio. No entanto, é preciso assumir riscos, pois assim, quem sabe, possamos comentar abertamente a poesia contemporânea em suas diversas manifestações.
Para começar, lembro aqui uma passagem do ótimo poeta Cacaso – um dos mais importantes pensadores de sua geração, que assim inicia uma resenha sobre a poesia da Olga Savary: “Uma atitude que se generaliza entre as mulheres poetas é evitar serem confundidas com a tradicional 'delicadeza feminina', para a qual os críticos sempre apelam quando querem reconhecer algumas peculiaridades em nomes como Cecília Meireles e Henriqueta Lisboa” (revista Veja, 13.out., 1982). A propósito disso, passaremos em revista sete livros de poetas contemporâneas que publicaram obras em 2015. Adiantamos que, por limite de espaço, não há como detalhar certos procedimentos formais de cada autora. Todas as poetas têm mais de um livro editado, tendo Simone de Andrade o maior intervalo de publicação entre um livro e outro, cerca de 20 anos. Já a poeta Denise Emmer é a que mais lançou livros, mesmo porque é de outra geração. Enquanto Ana Elisa Ribeiro, Adriane Garcia, Ana Martins, Tatiana Pequeno, Leila Guenther e Simone de Andrade são todas da mesma geração. Das sete poetas, Emmer, Guenther e Ana Elisa atuam também em outros gêneros, como o romance e o conto.
Se Cacaso estava certo, é possível então sair do clichê “delicadeza feminina” e pensar a poesia das sete poetas como um lugar de autoras que escrevem independentemente dos vestígios que possam haver de delicado e feminino em cada escrito. O que importa dizer é que o poeta deve ficar alheio a esses adjetivos e deixar a palavra poética se impor como processo de transformação, tanto estético como ideológico.
Pensando assim, Aceno, infelizmente de pequena circulação, é o segundo livro de Tatiana Pequeno, uma poeta que acena para um lugar onde a linguagem de extrema depuração comove porque desola, comove porque não inibe o feminino, ainda que às vezes atue de forma hermética. A poesia de Tatiana Pequeno, ao contrário do seu sobrenome, tem na sua estrutura poemas narrativos, com versos longos entrecortados com grande habilidade no uso dos enjambements. Aceno, mesmo com seu intimismo, talvez seja o único livro das sete poetas que evoca momentos recentes dos protestos que se espalharam no Brasil nos últimos anos. Na forma de uma carta aberta (Carta para Mariana, depois dos protestos) embora íntima, temos um dos belos poemas desse livro grandioso.
Corpos em marcha, de Simone Andrade Neves, é quase a estreia da poeta mineira. Mas um começo muito promissor, pois traz uma poesia que, muito trabalhada na sua linguagem, consegue se esquivar da suposta delicadeza feminina. A sua delicadeza é conquista diária, por isso seus corpos (linguagem) se impõem numa perícia demorada na escolha de cada palavra, cada verso, e tudo isso sem perda do lirismo que, camuflado, se abre sutilmente para a descoberta do prazer, como no admirável poema Ovo. Simone de Andrade, sem dúvida, é uma das ótimas revelações na cena da nossa jovem poesia contemporânea.
Se na poeta mineira acima o delicado se esquiva, o mesmo não ocorre com a poesia da belo-horizontina Ana Martins Marques. Em seu terceiro livro (Livro das semelhanças), a poeta acentua o uso da metalinguagem, porém recoloca esse exercício numa visada amorosa, como na última parte do livro, onde o tema amoroso, um dos mais buscados pela poesia desde sempre, ganha delicadeza sem frivolidade. Ana Martins é daquelas poetas que pensa muito o que sente e, sentindo, recolhe-se para embaralhar os sentimentos. Talvez por isso a ironia seja tramada de maneira discreta, mas que está lá para dizer que o amor, às vezes, pode ficar ancorado num porto de alguma cidade, onde uma vez esquecido é lembrado. Que o digam as “cartografias”, um dos pontos fortes do livro. Portanto, as semelhanças aqui são apenas um espelho, digamos fosco, que nos adverte ser preciso desconfiar das doações.
Desconfiar é o que Ana Elisa faz no seu Xadrez. Mudando as peças do tabuleiro, a poeta não mede palavras para derrubar os reis. A sua delicadeza é dar xeque-mate com humor, mas um humor irônico, pois a aparente simplicidade da linguagem é na verdade algo sempre refletido, como no jogo que dá título à coletânea, que exige sensibilidade concentrada. Xadrez tem entre seus melhores resultados o deboche desses amores em tempo de muita mercadoria. A poeta sabe que o melhor antídoto para a poesia é a própria poesia e disso resulta um livro cuja qualidade é justamente não amenizar o sentimento amoroso. O ótimo poema Aqueles ciúmes da Playboy é uma das peças em que Ana Elisa não poupa críticas ao que poderia ser “fácil” dentro do tema do erotismo. Em Xadrez, mais uma vez a poeta mineira não joga na defensiva.
Adriane Garcia ganhou em 2013 um importante prêmio de poesia com seu livro Fábulas para adulto perder o sono. Nesse livro, a poeta brinca ironicamente com as fábulas, mas é no seu terceiro livro Só, com peixes que ela, num mergulho mais marítimo, ao modo dos escafandristas, embora ainda temático, vasculha os mundos abaixo de nós, sem esquecer a superfície. Um livro cujo feminino na sua liquidez nos faz lembrar a bela definição que o escritor americano Carl Sandburg escreveu: “A poesia é o diário de um animal marinho que vive na terra e que gostaria de voar”. Só, com peixes, em seus melhores momentos, essa máxima pode definir os caminhos que Adriane Garcia descobriu ao abrir e fechar seu livro com dois poemas que inundam de beleza essa poesia.
Saindo do círculo de Minas Gerais, Leila Guenther, nascida em Santa Catarina, é uma poeta mais vinculada à prosa. No entanto, publicou um livro cuja “delicadeza feminina” se dá justamente no equilíbrio dessa Viagem a um deserto interior, título da coletânea de seus poemas. Na ótima orelha, o poeta e crítico Alcides Villaça pergunta: “Poesia feminina? Se a arte não parece ter gênero, as experiências o têm: chegam aos poemas de nossos dias vozes marcadas por um espanto de vida a um tempo estoico e dilacerado, ressurgido de incêndios, vingando um calor histórico”. Poeta que cultiva os silêncios, tem nessa escuta os melhores momentos nos poemas mais longos, nos quais podemos ouvir melhor os seus desertos interiores. Já os haicais, que ocupam uma parte do livro e que poderiam ser o lugar desses silêncios, talvez sejam mais exercícios do que propriamente novas formas de descobrir o vazio da arte do zen.
Denise Emmer, como dissemos, é a poeta mais experimentada, com uma obra vasta e que tem nesta nova reunião Poema cenário e outros silêncios um momento, digamos, sublime, com uma poética mais ao gosto elegíaco, porém sem se prender apenas à melancolia, pois a poeta bem sabe que é preciso olhar o mundo com suas durezas, como o belo Poema cenário, dedicado ao pai. Em tempo de muita euforia e pressa, a poesia de Emmer nos propõe um recolhimento para dentro de seus poemas, cuja voz baixa e grave pode recuperar um pouco da falta de delicadeza que afeta o mundo hoje.
Enfim, são apenas sete poetas, sabemos de outras, mas 2016 está aí e, quem sabe, a poesia possa ainda nos surpreender.
  (Estado de Minas, “Caderno Pensar”, 8/1/2016)