Está parecendo que eu odeio a humanidade
Desde que vi as morsas caindo de montanhas
Em que nunca deveriam ter subido
As morsas quicando
Uma, duas, três vezes e caindo estateladas
No meio da multidão de morsas
Na costa da Rússia, eu que nunca estive lá
Chorei como quem passava a amar somente os bichos
E as plantas que cultivo no meu apartamento
Sob um pedacinho de sol
Que os arquitetos deixaram por compaixão
Ou por esquecimento
Soube então que faltavam geleiras às morsas
E que elas agora se viravam nas pedras
Amontoadas, que algumas subiam as montanhas e
O resultado já disse
Elas caem e fica parecendo que eu
Odeio a humanidade
Como se eu não soubesse que gente
Também é bicho
Como se eu não entendesse que é preciso amar
A minha própria espécie
Fica parecendo que eu não compreendo
Que nós caímos quando a morsa cai.
(Adriane Garcia, Estive no fim do mundo e me lembrei de você. Peirópolis)
Ahhhh que alegria estar por aqui no dia em que li seu poema lindíssimo Carta aberta ao rei do Butão. Gente, leiam esse poema de Leila!
ResponderExcluirNão exagero quando digo que "Antropoceno" é o poema mais impactante de nossa época
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