Tem
epígrafe de Darwin. Tem dentro, fora e sobre. Tem circo de aberrações,
labirinto, prostitutas, século XIX, cachorros, Machado de Assis, decadentismo,
Borges, veludo azul, solidão, Oriente, irmãos siameses, peixes, México, gato,
Ofélia de Shakespeare. Tem o fato de eu ser míope e mulher. Tem o horror do
abuso. Mas tem este lugar concebido pela Viviane Ka, o Eugênia Café Bar, de
protagonismo feminino, que pode nos acolher. Tem a percepção de Walter Carlos
Costa, estudioso da teoria do conto que
redigiu a orelha, o primeiro a entender o que eu queria dizer. Tem o espanto de
existir. Tem essa ilustração da Tieko Irii, que, em vermelho-sangue, nos expele
para fora do mundo, onde não encontramos lugar. Tem um projeto gráfico lindo,
que eu penso não merecer. Tem meu mutismo, minha reclusão e incapacidade de
significar por outros meios que não a palavra escrita. Porque eu não existo
além da Palavra. Tem um editor que é também escritor, Marcelo Nocelli, e que
acreditou neste gênero tão desprestigiado da literatura. Tem, sobretudo, o amor
pelas letras, que me moldou. Tem várias partes de mim, homólogas às de vocês,
pedaços desmembrados de cada um de nós. E tem a impossibilidade de urrar, que
me levou a escrever.
das 19h às 21h30