terça-feira, 23 de dezembro de 2014

Halley

para Marcelo, por supuesto

Por onde andava em 1986?
Em segredo, eu esperava o cometa.
Um ano inteiro aguardando sua vinda.
À espreita.
Desconfiada de que sua passagem
alterasse minha órbita.
Com o braço direito engessado, 
na escola a mão canhota
ensaiava infinitas variações de sua forma.
Os olhos voltados para baixo
nunca olhavam para o céu. 

Ninguém o viu mesmo.

Seus vestígios, descubro hoje, 
estão passando pela Terra
como poeira de luz,
rastros do que não houve,
deixados pelo céu 28 anos depois.

Que transformação operará quando voltar?
Fico à espera da resposta
naquela época como agora. 

O que sei é que já não nos veremos mais.




(Wings of desire)

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