Para Ahmed Zoghbi
Um
sopro uma brisa uma nuvem
trazem
notícias
de
tufões tormentas tsunamis
de
outros lugares
Mas
lhes fechamos as portas porque aqui dentro faz frio
Me
lembro de soltar os talheres
e
todos continuarem comendo
enquanto
o terremoto sacudia as mesas
do
país de Allende
Com
o tempo devíamos ficar mais resistentes às intempéries
Criar
casca grossa
Fazer
da pele um casaco impermeável
Mas
a única casca que consigo criar é a da ferida
E
ela é tão fina
Que
quando a arranco
Jorra junto o sangue do mundo inteiro.
“Estamos
perdendo a capacidade de contar”,
diz
meu irmão, vizinho de Sherazade
Estamos
perdendo a única habilidade que nos difere
como
homens e entre homens
de transformar Babel em balada ou lullaby
Nem
fly nem fight
Nem
mesmo esquecer ou lembrar
Dizem os palestinos que devemos guardar as lágrimas
para o dia da vitória
mesmo sabendo que ela não virá
A
falta de saúde os remédios o cortisol
o medo de perder o emprego me paralisam
Caminhamos
dentro do oceano
contra
uma massa de água
que
nos atrasa os passos
e
nos impede de salvar os que se afogam
Ikram,
tentei te pôr em palavras
tu
que não sabes ler
tu que
vieste de outro oriente
mastigada
e vomitada por uma baleia
Eu
que venho do silêncio
quis
dar-te voz
quando
soubeste de teus dois filhos assassinados
Falhei. Falhei e não me perdoo
Tentei
escrever porque não podia urrar
nem
arrancar os cabelos
Porque
narrar era o mínimo que devíamos saber
Como
humanos que já fomos um
dia.
(Leila Guenther)
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