sexta-feira, 14 de julho de 2023

Celeste Ng (II)

 


Não sei quanto tempo levará para eu encontrar um livro tão poderoso quanto o que acabo de ler, Os corações perdidos (Intrínseca, trad. Fernanda Abreu), de Celeste Ng, uma distopia em que os asiáticos estadunidenses são transformados em bode expiatório para o declínio do império americano. O ponto chave é a retirada sumária da guarda das crianças dos pais considerados perigosos ao sistema para serem realocados em lares onde as famílias nunca mais as encontrarão. O capítulo em que as histórias dos filhos são referidas, lembradas pelos pais e reunidas por alguém que crê no poder da memória e da palavra escrita é algo à parte, que se eleva para entrar no panteão dos melhores capítulos da literatura que eu já pude ler. E, segundo a autora, o tema foi emprestado da realidade, principalmente da dos imigrantes. A realidade que desde sempre sequestra os humanos mais indefesos (e continuará a fazê-lo) para colocá-los numa condição de desamparo da qual não há retorno possível.


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