Peço
asilo em seu país
Porque
o meu desapareceu
Dizem
que se descolou
Do
resto da América
E
começou a afundar
Em
breve nos afogaremos todos
Embora
sempre há quem ache
Que
ele não
Ofereço
o que sei e o que posso aprender
Posso
trabalhar em benefício
Das
crianças mais remotas
Como
todos daí fazem
Em
vez do tal serviço militar
Posso
tirar leite de iaque
E
viver de chá de manteiga
Mas
se Padmasambhava* me orientar,
Também
posso tirar leite de pedra
Espero
que me conceda
Como
faz a todos os seus cidadãos
Um
tear e um pedaço de terra
Para
que eu me fie em algo
E
não me afogue nunca mais
No seu serviço de saúde
Universal
e gratuito
Tenho
fé que consertem minha cabeça
Onde
mora a pior de todas as enchentes
E
não me importo
Que a caça e a pesca sejam proibidas
Porque
eu mesma já não tenho vontade
De
comer seres que são
Mais
inteligentes do que eu
Aí
tem tudo, é outra civilização
Tem
monges bonitos pra gente meditar
E
um monte de livro
para
traduzir de seus Platões
Peço
asilo ao rei do Butão
Um
rei que, na Constituição,
Estabelece
ser deposto
Se
não for bom a seu povo
Não
é melhor que um presidente
Que
não quer sair do trono?
Mas
o que eu gostaria mesmo
Era
de subir na parte mais alta
Do
mosteiro de Taktstang,
Encarapitado no extremo de uma rocha
Desde
que o Desperto acordou
Lá
terei certeza de que não me afogarei
E
de que enfim empreenderei meu voo
Com a bênção de todas as dakinis**
Que
caminham sobre o ar
(Leila Guenther)
* Padmasambhava: místico considerado o fundador da escola tântrica do budismo tibetano. A ele eram atribuídas qualidades mágicas, como estar em vários lugares ao mesmo tempo.
** dakinis: deidades femininas do budismo Vajrayana. Significa “aquelas que atravessam o céu” ou “as que se movimentam no espaço”. Estão ligadas à transformação.
(fotografia
de Matthieu Ricard, monge budista, biólogo molecular, escritor e fotógrafo)
Se for, me leva junto! Carta-poema de muitos. :)
ResponderExcluirButão é minha Pasárgada
ExcluirLindo
ResponderExcluirFico feliz em saber que gostou!
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