Caminho com cuidado olhando o verde
As
inúmeras nuances de verde que a luz origina
Quando
toca o mato, a grama, o abacateiro
Ou
um coração vermelho-sangue
As
primeiras maçãs ainda estão verdes
Como
um dia também fui
O
mundo começa onde o sol nasce
Os
esquilos voam de árvore em árvore
Sem
que nada lhes aconteça
Sento-me
na terra e mexo apenas os olhos
Do
chão até o céu e até no céu
Há
um verde insidioso
O musgo
me envolve aos poucos
À
medida que detenho os movimentos
Por alguns instantes a bomba que carrego
[não
explode
Tudo demora mais comigo
Movo-me
em câmera lenta
Arrastando
os pés com curativos
Que
tapam feridas que nunca cicatrizaram
As
lágrimas escorrem devagar do olho esquerdo
Porque
o direito entupiu há muito
Ainda
tenho a tosse de uma gripe
[que começou em
2010
A
recuperação leva tempo
Os
pesadelos recorrentes vêm de
[quando existiam
videocassetes
Só
contei o que houve na infância trinta anos depois
Tudo
demora mais comigo
Vivo
ainda o luto de um cão que se foi
Quando
minha mãe não tinha morrido
E
nem sei quanto gastarei
Para
velar os levados em sacrifício
Tudo
demora mais comigo
Tenho
a lentidão da tartaruga
Mas
o casco dela ainda não me nasceu
(Leila Guenther)
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