
Li
a versão integral de Alice no País das
Maravilhas, que conhecia de adaptações infantis, pela primeira vez aos
33 anos, na cama da enfermaria de um hospital, nos dias anteriores à minha
alta, quando eu, já recuperados alguns movimentos, conseguia pelo menos virar
sozinha as páginas de um livro, depois de passar quase dez dias em coma em uma Unidade de
Tratamento Intensivo. Foi um presente, em vários sentidos. Porque afirmam que
eu “nasci de novo”, posso dizer que este foi o primeiro livro que li na minha
(segunda) vida. E o país das maravilhas, para mim, passou a ser algo muito
concreto, mas de difícil definição, pois eu não poderia jamais admitir que,
quando as coisas não vão bem, não é para o colo de minha mãe, os braços do
amado ou o ombro do amigo que meus pensamentos se dirigem, mas para aquele
quarto coletivo de hospital público, sem espelhos, onde recebo, em paz no meio
dos mais variados barulhos, os cuidados de rosângelas, marias da graça, sandras
e outras funcionárias - enfermeiras e faxineiras de cujo nome já não me lembro.
Leila Guenther.
Este lado para cima. Sereia Ca(n)tadora/ Revista
Babel, 2011.
Que experiência extraordinária, e que sensação intrigante, essa que você confessa! E eu, que ando sempre a farejar e a pressentir uma obra de arte, fico aqui pensando com meus botões: eis aí uma coisa que se prepara para transfigurar-se.
ResponderExcluir