terça-feira, 26 de maio de 2009

Trança de poemas

Há uma mulher a morrer sentada
Uma planta depois de muito tempo
Dorme sossegadamente
Como cisne que se prepara
Para cantar

Ela está sentada à janela.
Sei que nunca
Mais se levantará para abri-la
Porque está sentada do lado de fora
E nenhum de nós pode trazê-la para dentro

Ela é tão bonita ao relento
Inesgotável

É tão leve como um cisne em pensamento
E está sobre as águas
É um nenúfar, é um fluir já anterior
Ao tempo

Sei que não posso chamá-la das margens

(Daniel Faria)


lua entre folhas
nada
mais
não fosse a procura
de crateras
no coração

saudade de tudo:
sol e criança desconhecida
na janela de um ônibus

olho mudo
deixado em jardim
que nunca mais será visto

dor que começa
em todo último minuto
e estica-se magra
amarga lágrima
de tudo

(Ricardo Lima)

Os detetives perdidos na cidade escura.
Ouvi seus gemidos.
Ouvi seus passos no Teatro da Juventude.
Uma voz avançando como uma flecha.
Sombra de cafés e parques
Frequentados na adolescência.
Os detetives que observam
Suas mãos abertas,
O destino manchado com seu próprio sangue.
E você não pode nem mesmo se lembrar
Onde estava a ferida,
Os rostos que você amou um dia,
A mulher que salvou a sua vida.

(Roberto Bolaño, trad. de Rodrigo Garcia Lopes)

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