quarta-feira, 27 de maio de 2009

Se Dexter Gordon cantasse

Quando à noite ofereço um pouco de whisky a Turíbio, estendendo meu copo em direção a seu nariz, ele vira a cabeça para o lado, num gesto de desprezo. Mas não se afasta, porque sabe que a música vai começar.
Então nos pomos a escutar as diversas versões de “’Round Midnight”. Depois de o whisky fazer algum efeito, imito Dexter Gordon, no filme homônimo, quando, olhando para um bêbado que acabou de cair para trás, pede ao barman, com sua voz rouca e mole: “Quero tomar o que esse aí tomou”.
Turíbio tem a felicidade de só precisar da música: em pouco tempo ele já está em paz, dormindo, com sua imensa cabeça de buldogue apoiada sobre minhas coxas.

(Leila Guenther)

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