Ainda não sei se Drive
my car, de Ryûsuke Hamaguchi, Oscar de melhor filme estrangeiro de 2022, é o filme mais japonês
ou mais russo que já vi, ou se, por ambos os motivos, é o mais universal.
Em tempos:
1. Foi o filme em que mais vezes vi
pronunciada uma palavra que os japoneses evitam: não (iê);
2. O nome da personagem feminina que
paira sobre o filme inteiro tem um nome (Oto) que, associado ao
tratamento respeitoso japonês (sam),
parece, aos meus ouvidos, se transformar em outra palavra (otosan), pai, que é o que falta à jovem motorista; oto também significa som, como me lembrou uma amiga, algo
chave na obra;
3. O título Drive my car é nome de uma música dos Beatles que não é tocada no filme
(baseado no conto “Homens sem mulheres”, de Haruki Murakami, que possui um romance
cujo título é também o nome de uma canção dos Beatles, como lembrou outro amigo);
4. A vida que o vermelho confere a um ser inanimado, no cinza do filme, me lembrou o que Wim Wenders, apaixonado pelo cinema japonês, fez com os objetos de Paris, Texas;
4. Colocar numa peça sobre o nada (Tio Vânia) - numa montagem em que são
falados vários idiomas - uma atriz muda, que se expressa pela linguagem dos
sinais, é tão significativo quanto belo;
5. Tudo na vida é teatro.
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