quinta-feira, 21 de julho de 2022

Tio Vânia em Hiroshima, mon amour

Ainda não sei se Drive my car, de Ryûsuke Hamaguchi, Oscar de melhor filme estrangeiro de 2022, é o filme mais japonês ou mais russo que já vi, ou se, por ambos os motivos, é o mais universal.

Em tempos:

1. Foi o filme em que mais vezes vi pronunciada uma palavra que os japoneses evitam: não ();

2. O nome da personagem feminina que paira sobre o filme inteiro tem um nome (Oto) que, associado ao tratamento respeitoso japonês (sam), parece, aos meus ouvidos, se transformar em outra palavra (otosan), pai, que é o que falta à jovem motorista; oto também significa som, como me lembrou uma amiga, algo chave na obra;

3. O título Drive my car é nome de uma música dos Beatles que não é tocada no filme (baseado no conto “Homens sem mulheres”, de Haruki Murakami, que possui um romance cujo título é também o nome de uma canção dos Beatles, como lembrou outro amigo);

4. A vida que o vermelho confere a um ser inanimado, no cinza do filme, me lembrou o que Wim Wenders, apaixonado pelo cinema japonês, fez com os objetos de Paris, Texas;

4. Colocar numa peça sobre o nada (Tio Vânia) - numa montagem em que são falados vários idiomas - uma atriz muda, que se expressa pela linguagem dos sinais, é tão significativo quanto belo;

5. Tudo na vida é teatro.




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