quarta-feira, 22 de junho de 2022

Navegando para Bizâncio

I

Ali os velhos não têm vez. Gente jovem
Reunida, os pássaros cantando nas árvores
Essas gerações que se acabam ,
Rios de salmão, mares de anchova,
Garoupa, gado ou galinha, festejando o verão inteiro
O que nasce, se desenvolve e morre.
No baile todo mundo esquece
A sabedoria que não some.

II


Um velho não vale nada,
É só um trapo de bengala, a menos
Que bata palma, cante e se esgoele
Para cada farrapo do seu paletó usado;
Não há nem escola de canto, só o estudo
Dos monumentos de sua própria grandeza;
Por isso naveguei até chegar
Na cidade santa de Bizâncio.

III


Vocês, entendidos do fogo sagrado de Deus,
Que brilha como as pastilhas da parede,
Saiam dessa ciranda em volta da fogueira
E sejam os mestres cantores de minha vida.
Queimem meu coração doido de desejo
Que amarrado a um animal moribundo
Não sabe o que é; me prendam
Na arapuca da eternidade.

IV


Longe da natureza nunca vou modelar
Minha carapaça a partir de coisa natural,
Mas do jeito que os ourives gregos
Forjam o ouro e com ele banham o metal
Para manter acordado o Imperador dorminhoco;
Ou vou cantar aboletado num galho de ouro
Para essas pessoas da sala de jantar
O que passou, o que passa e o que vai passar.

(W. B. Yeats, tradução minha)




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