sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Li Po


DIANTE DO VINHO

Amigo, crê-me, não afastes essa taça!
O vento de primavera chega todo sorridente.
Pessegueiros e ameixeiras, tão velhos conhecidos,
Inclinam suas flores e as entreabrem para nós.
Os verdelhões alegres cantam nas árvores verdes;
A lua brilhante observa nossas taças de ouro.
Ontem éramos jovens de pele rosada;
E eis que agora os cabelos brancos nos envelhecem.
A selva invade o palácio do rei de Tchao;
Os cervos atravessam o terraço de Kou-sou.
Nesses velhos palácios de imperadores e príncipes,
Os portões guardam apenas a poeira!
Por que não aceitar essa bebida?
Onde estão agora os homens do passado?


SAUDAÇÃO SOLITÁRIA AO LUAR

Entre as flores um jarro de vinho:
Bebo sozinho, sem amigo algum.
Erguendo minha taça, convido o luar;
Eis minha sombra diante de mim: somos três.
A lua – que pena – não sabe beber;
E a sombra em vão me segue.
Companheiros de um instante, ó lua e sombra!
Nas brincadeiras alegres, festejemos a primavera!
Quando canto, a lua vagueia.
Quando danço, minha sombra, perdida, se deforma.
Já que ficaremos velhos, alegremo-nos juntos;
E, uma vez embriagados, que cada um regresse.
Que dure para sempre nossa ligação sem alma:
Nós nos reencontraremos pela Via-Láctea distante!



(da Anthologie de la poésie chinoise classique. Trad. Leila Guenther)

Um comentário:

  1. Eu,que adoro vinho, bebo desses poemas com alegria redobrada. Obrigado pela postagem. Abraço

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