quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

Poeminha criacionista

Pisava com leveza nos presságios
Tocando cada lugar de sua ausência
Onde não há água para respirar

Todos os seres têm seu rosto
Inclusive o menino estrangeiro de cabelo mapuche que pela [primeira vez me beijou na saída da escola

Me leve para o seu deserto
Para o meu elemento
Lá onde céu nenhum "nos protege de nós mesmos"

Abri a janela dos seus altiplanos
Para nadar nos seus olhos: 
Faz frio demais quando estamos sozinhos 

O que você vê nos olhos de quem olha?
Atrás de mim me espreitam três mil páginas de Bolaño

Trancarei o medo em meus braços
Com a chave que usou para abrir a jaula onde me esqueceram [desde o século XIX 
Sobrevivo há muito tempo
Das lembranças que não tivemos
Porque éramos coisas de outros donos 

Agora moro em um novo altar

(Leila Guenther, 1948)


5 comentários:

  1. Deus tá de férias e manda lembranças!! Adorei. :)

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  2. Que poema lindo! Gosto de versos que transbordam uma mística assim: repleta de profana descrença.
    Há imagens belíssimas emaranhadas nesses versos. Que bom que alguns caminhos dessas infovias, que nem sei precisar quais foram, me trouxeram aqui.

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  3. Tenho a impressão de que meu comentário anterior se perdeu. Retorno, então, apenas para registrar que achei lindo esse poema, repleto de sacra e profana dúvida diante da certeza da impermanência de todas as coisas...

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