domingo, 21 de setembro de 2014

Dois rios e mil e uma noites

dois rios

há em minha terra dois rios
silenciosos

um
estendido em verde tapete de aguapé
onde não mais trafegam canoas
apenas diminutas criaturas buscando seu pasto

outro
árido tapete árabe
onde todos caminham acima de sua face




a noite

que seja à noite tarde da noite e nada mais se enxergue
e nada mais se espere nem canto algum destoe
ainda que apenas fosse este silêncio certo de prece

qual áspera certeza suave como árvore sem folha
que somente recolha o último instante que lhe baste
que seja tarde tão tarde que outra porta não se escolha

e nada mais se enxergue nem amigos nem destinos
onde todos estão dormindo e uma leve brisa reste
tênue e inerte que o pensamento esquece que estou sozinho

sem incomodar ir embora na calma de quem parte
tranquilo mas que não seja à tarde a mais morta das horas


(Adriano Lobão Aragão. As cinzas as palavras. 2.ed. Teresina: dEsEnrEdoS, 2014)

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