CALMA E FUGA
lendo
cruzo a avenida
pensando
no poema
que
fala de uma mulher livre
e
de um homem feito dardo
que
ela atira para longe de si
a
tarde morna já se despede
e
tudo parece tecido
em
fios de ausência e desespero
enquanto
os mortos de hoje
juntam-se
aos corpos de ontem
fingimos
calma, somos fuga
e
ninguém sabe bem em que esquina
a
conversa falhou e deixou
essa
lembrança sem margens
nos
olhos, nos ossos, no vento
um
país
é
descoberto
a
cada manhã
a
cada manhã
um
mesmo país
se
descobre
e
chove forte
sobre
o território
indefeso
todo
dia
um
país é tragado
em
seus lençóis
e
os dias passam
úmidos
e tristes
sob
a terra fértil
à
espera do sol
que
o evapore
e
invente
(Tarso
de Melo, Alguns rastros: uma antologia.
Goiânia, Ed. Martelo, 2018)
Muito bom!!!
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