Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o
a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos,
compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são
recusadas por um ou outro redator. Pois bem — usando da licença que me deu de
aconselhá-lo — peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente
o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, —
ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o
motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais
profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado
escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranquila de sua
noite: "Sou mesmo forçado a escrever?” Escave dentro de si uma resposta
profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um
forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta
necessidade.
(Rainer Maria Rilke, Cartas a um jovem poeta. Trad. Paulo Rónai. Rio de Janeiro, Editora Globo, 1995)
Nenhum comentário:
Postar um comentário