Quem me conhece sabe que vivo bastante afastada do convívio humano, que
dificilmente vou a eventos para os quais me convidam e, quando o faço, passo
pouco tempo, que não falo em público, que fico confusa no meio de uma multidão,
que sou, enfim, totalmente reclusa. Não que eu não goste de pessoas (algumas
têm e sempre terão lugar cativo aqui dentro), mas é que estar entre elas às vezes
me aflige, às vezes me faz sentir sufocada. Talvez seja apenas medo. No entanto, nunca tive problema com bichos. Com eles parece
haver uma afinidade que me devolve a um estado que deveria, a meu ver, ser
natural da mente e me põe mais à vontade do que com gente. Não tenho dúvidas de
que preferiria encontrar um bando de pitbulls numa rua escura a encontrar um
homem. Ainda que os cães me estraçalhassem, eu não sentiria medo. Poderia
sentir dor, mas não medo. Pois nesta necessidade de paz interior, tenho ficado
com frequência longe da civilização, no meio do mato, que é onde me escondo por
uma questão de sanidade mesmo. Lá os insetos têm força. E a demonstram quando
estou lendo ao sol ou buscando sinal de celular, através de picadas, mordidas,
ferroadas. Mas, curiosamente, não fazem nada quando estou meditando, sentada na
grama, em busca desse estado natural, o que ocorre em geral no fim da tarde, justo quando os insetos estão mais vivos. Quando entro no estado meditativo, naquela
sensação poderosa de que eu e a terra respiramos na mesma frequência, nenhum
inseto me ataca. Ao terminar a prática, constato que não carrego uma picada
sequer, como se tivesse sido esquecida, e que estou incrivelmente viva, assim
dissipada na paisagem.
Na essência, como deve ser.
ResponderExcluirsim, paisagem com vista para dentro!
ExcluirEsse é um estar no mundo, querida Leila, de quem está gestando. Belo e fluido escrito.
ResponderExcluirObrigada, Lia!
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