segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Longe dos homens, perto de tudo



Quem me conhece sabe que vivo bastante afastada do convívio humano, que dificilmente vou a eventos para os quais me convidam e, quando o faço, passo pouco tempo, que não falo em público, que fico confusa no meio de uma multidão, que sou, enfim, totalmente reclusa. Não que eu não goste de pessoas (algumas têm e sempre terão lugar cativo aqui dentro), mas é que estar entre elas às vezes me aflige, às vezes me faz sentir sufocada. Talvez seja apenas medo. No entanto, nunca tive problema com bichos. Com eles parece haver uma afinidade que me devolve a um estado que deveria, a meu ver, ser natural da mente e me põe mais à vontade do que com gente. Não tenho dúvidas de que preferiria encontrar um bando de pitbulls numa rua escura a encontrar um homem. Ainda que os cães me estraçalhassem, eu não sentiria medo. Poderia sentir dor, mas não medo. Pois nesta necessidade de paz interior, tenho ficado com frequência longe da civilização, no meio do mato, que é onde me escondo por uma questão de sanidade mesmo. Lá os insetos têm força. E a demonstram quando estou lendo ao sol ou buscando sinal de celular, através de picadas, mordidas, ferroadas. Mas, curiosamente, não fazem nada quando estou meditando, sentada na grama, em busca desse estado natural, o que ocorre em geral no fim da tarde, justo quando os insetos estão mais vivos. Quando entro no estado meditativo, naquela sensação poderosa de que eu e a terra respiramos na mesma frequência, nenhum inseto me ataca. Ao terminar a prática, constato que não carrego uma picada sequer, como se tivesse sido esquecida, e que estou incrivelmente viva, assim dissipada na paisagem.




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