sexta-feira, 24 de abril de 2009

Para começar


Um trecho que justifica o nome. A ideia veio do poeta e jornalista Ricardo Lima, numa entrevista que fez comigo.


Estava numa mesa na parte ao ar livre quando ele se aproximou com olhos de fome. Peguei um pedacinho de presunto do sanduíche e o levei até perto de sua boca. Ele o engoliu praticamente sem mastigar. Então parti um pedaço ainda maior, com pão e queijo, e o depositei na palma de minha mão: ele comeu dela, lambendo minha linha da vida. Não fui mãe, mas suponho ter experimentado algo bem próximo, se tivesse oferecido meu leite a uma pequena criatura. Eu alimentei um ser com a minha própria pele e, depois disso, ninguém pode ser mais o mesmo.


(Leila Guenther, "No caminho do cisne", O vôo noturno das galinhas. Ateliê Editorial, 2006)

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