quando pequena eu tinha coelhos e
eles me fascinavam tanto
que durante o dia todo não desgrudava
deles.
olhava-os sem parar mas jamais me
ocorreu
que eram animais que comiam e foi
assim
que morreram. eu não conseguia
entender por que
isso tinha acontecido se eles sabiam
que
eu os amava. para mim só existia um
tipo
de morte e era de pena ou tristeza.
depois, um tio me perguntou o que eu
dava de
comer aos coelhos e eu achei estranhíssimo.
disse que não lhes dava nada,
perguntaram aos
maiores e todos responderam que se
os bichinhos eram meus, seria de
imaginar que eu os
alimentava. grande comoção pela morte
dos coelhos.
todos acharam que eu era boba e
desnaturada.
eu não me importei, mas pensei
que de agora em diante daria comida a
todas as coisas de que eu gostasse
porque isso queria
dizer que havia duas espécies de
morte: a de
fome e a de pena.
(Cecilia Vicuña, poeta chilena,
traduzida por Marcelo Donoso e por mim)
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