quinta-feira, 13 de julho de 2023

Precoce/ Precoz

 Precoce

 

À memória de Valentina Doniez

  

Morrem logo os que vivem mais

Porque se esvaem rápido

Para evitar a inundação

 

Em tudo o que fazem

Desviam um trecho de si

Que é impossível rastrear depois

 

Perdem os anéis e os dedos

Que em seguida são enxertados

Em quem não tem nem um nem outro

 

Emprestam-se mesmo

Quando não devolvidos

E então também somem

Alguns livros de seus corpos

 

E vivem. Vivem muito no pouco do Tempo

E morrem de excesso de vida

 

A pele se despregou quando os leões a devoravam

E ela lhes retribuiu uma risada com o que 

                                                       [restou de seus lábios

 

Uma garota de balaclava balança uma bandeira

No meio da praça de um país imaginário

Onde jovens estão dando à luz um outro mundo

 

Todos eles escutam seu chamado

 

Hoje retiramos sua foto de nossas vistas

E me recuso a imaginar

A forma que você tomou

Embora nenhum de nós esqueça ou esquecerá

A inteireza de seu rosto

Trancado no porta-retrato

 

Sei que encontrarei fragmentos dele

Espalhados, compondo outros rostos

De outros jovens

Que também não puderam sustentar

O peso da primavera

 

(Leila Guenther)

 

 


Precoz

 

En memoria de Valentina Doniez

 

Mueren pronto los que viven más

Porque se desvanecen rápido

Para evitar la inundación

 

En todo lo que hacen

Desvían un tramo de si

Que después será imposible rastrear

 

Pierden anillos y dedos

Que luego serán injertados

En quienes no tienen ni uno ni otro

 

Se prestan aun   

Cuando no son devueltos

Y entonces también desaparecen

Algunos libros de sus cuerpos

 

Y viven. Viven mucho en lo poco del Tiempo

Y mueren de exceso de vida

 

La piel se despegó cuando los leones la devoraban

Y ella les devolvió una risa con lo que 

                                [quedó de sus labios

 

Una chica con pasamontañas enarbola una bandera

Al centro de una plaza de un país imaginario

Donde jóvenes dan a la luz otro mundo

 

Todos ellos escuchan tu llamado

 

Hoy sacamos tu retrato de nuestra vista

Y me niego a imaginar

La forma que has adquirido

Aunque ninguno de nosotros olvide ni olvidará

La integridad de tu rostro

Encerrado en el marco de la foto

 

Sé que encontraré algunos de sus fragmentos

Desparramados, componiendo otros rostros

De otros jóvenes

Que tampoco pudieron sostener

El peso de la primavera

 

(Traducción de Marcelo Donoso)





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