A lembrança cinematográfica mais pungente do ano de 2015 se relaciona com duas imagens de El Botón de Nácar, de Patricio Guzmán, autor do soberbo Nostalgia de la Luz, no qual se traça um paralelo entre povos indígenas da Patagônia que mantinham uma profunda relação com o mar (que os chilenos perderam, apesar da extensão de seu litoral), exterminados durante o processo “civilizatório”, e prisioneiros políticos exterminados durante a ditadura militar (arremessados de aviões e helicópteros) neste mesmo mar do sul, convertido, portanto, em cemitério: a pintura corporal de um dos povos retratados no documentário, os Selknam, e a expressão de Gabriela Paterito, remanescente dos Kawésqar, ao afirmar que sua língua nativa não conhecia palavras nem para deus nem para polícia: “Não precisávamos deles”, diz ela.
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