Como meu material de trabalho é a palavra, a linguagem escrita, sempre me intrigou o funcionamento das artes que lidam com outro tipo de matéria-prima, como a música ou as plásticas. Costumo pensar em mundos criados pelo Verbo. Enredos, tramas, enfim, todo o entrelaçamento de ideias que habita uma cabeça. O trabalho de Paulo Sayeg, no entanto, conta para mim essa mesma história, a história da Criação, mas através da imagem. Não a do mundo como ele é, mas como o Criador o vê. Seu traço perfeito, em vez de estabelecer limites, rasga como uma navalha as fronteiras entre o real, realista, e o irreal, fantástico, mágico, para criar algo que na verdade não é uma coisa nem outra, mas algo único, que tem sua própria verossimilhança, suas próprias regras, uma espécie de universo à parte, ou outra dimensão. Paulo Sayeg é um criador de mundos. E, uma vez que adentramos neles, já não queremos mais sair.
(Texto que escrevi sobre Paulo Sayeg, que ilustrou meu livro de poemas, a propósito da sua exposição na Acierno, que começa hoje)
(ilustração de Paulo Sayeg para Viagem a um deserto interior, Ateliê Editorial, p. 39)
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