Os cães não latiam, não se agitavam, mas ele sabia que o vigiavam.
Concentrou a audição no ruído do veículo que se aproximava lentamente, até se
apagar. Ouviu conversa de homens, o baque das portas ao serem fechadas. A
corrente mexeu-se, foi puxada por fora, e então abriram a porta.
Empurraram os gêmeos para dentro. Pacato olhou-os, e viu Cuíca
manietado por dois homens e Fiapo com o rosto inchado.
Ouviu quando os outros homens pararam de conversar.
A voz autoritária disse-lhe tudo, a voz e o jeito de
andar, de pisar o chão, Pacato Patrício conhecia. À frente dos homens, apareceu
o capataz. Pacato olhou-o e baixou a vista.
— Não precisamos mais de você. Pode ir — disse o capataz.
Pacato Patrício olhou para os irmãos e viu que eles tremiam.
Caminhou lentamente na direção da porta e viu a aurora cinzenta na barra do
horizonte. Não parou para olhar para trás.
Dois homens seguravam os cães. Ele saiu para a
estradinha, de olho no nascente. Então ouviu, nítidos, os quatro estampidos.
(Jádson Barros Neves*,
Consternação. Anajá, Casarão do
Verbo, 2013)
* vencedor do Concurso
Internacional de Contos Guimarães Rosa de Radio France
Internationale/Paris, em 2000, do concurso de contos
Cidade de Fortaleza/2003 e do Prêmio Cidade de Belo
Horizonte, na categoria livro de contos inéditos, em 2008.
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