terça-feira, 8 de julho de 2025

Mais uma mulher de Lot

 


Para Adriane Garcia

 

Onde você perdeu seus olhos?
Em que noite eles se esconderam
Camuflados na paisagem?

Eram duas bolas de gude castanhas
Onde o mundo se enxergava e se redescobria
O que viram para desaparecer assim?
Teriam sido arrancados
Quando você olhou para trás
Antes de chegar até aqui?
Ou você mesma os arrancou?

A ameaça dos homens é vã
Porque nenhum deus tem o poder
De transformar alguém em estátua:
Isso é apenas o que dizemos às crianças
Para assustá-las se não se comportam
Enquanto preparamos as refeições

Seu corpo chegou em carne e osso
Embora recoberto de arranhões, feridas, roxos, cortes
E o que mais se acumula numa fuga
Quando não enxergamos
As solas dos pés, perfuradas de espinhos, infeccionaram

Você veio apenas para morrer
Todas nós choramos por velar uma mulher sem nome

Por respeito tentamos cerrar suas pálpebras
Mas elas afundaram
Sugadas por dois buracos
Cheios de vazio
 
(Leila Guenther)

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