- Você gosta de
mim?, perguntou, agachando-se, até que seus olhos ficassem na altura dos de seu
interlocutor. O cão a fitou com o mesmo olhar límpido de sempre. Ela sorriu,
talvez de si mesma. Fazia vários dias que os lábios não executavam esse
movimento. Fazia tempo que ela não tinha vontade de contrair nenhum músculo em
sinal de alegria por estar viva. Ela era injusta. Era uma perfeita estranha até
para si mesma. Precisava tanto dos outros que fugia deles. Ela simplesmente não
saberia como. Como reclamar para si o direito a uma amizade, por exemplo. Como
dizer para a colega da classe do inglês que fossem tomar um café. Os outros
eram perfeitos estranhos. E ela não saberia. Por isso perguntava ao cão. Esse cão
que a suportava todos os dias, todos os momentos, e cuja companhia, para ser
sincera, ela preferia à de qualquer outro ser humano, na falta de lobos. Ela
não precisava fazer nada. Ele não precisava também. Eles se seguiam pela casa.
Só isso. Ela falava com ele, quando a vontade de comunicação, de articular
algum som, parecia estar prestes a irromper de sua garganta como um vômito, do
qual alguém tem pressa em se livrar,
mas para o qual não se quer olhar mais, uma vez expelido. E ficava intimamente
grata que ele não pudesse responder.
Quando a solidão e
o estranhamento a abalavam a ponto de sentir náusea, era a ele que se agarrava
e que abraçava com uma fúria tal que temia quebrar-lhe os ossos pequenos
e frágeis. Era assim que ela fazia. Só para se lembrar de quem era. (Ela
sonhava com uma matilha. Com lobos nos quais se pudesse fiar apenas pelo
cheiro.)
(Leila Guenther)
lobos só dizem o necessário.
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