Trecho
da sinopse:
“Ao
acordar sozinha no chalé de caça onde estava hospedada nos Alpes austríacos, a
narradora deste romance descobre-se cercada por uma barreira invisível e
intransponível. Do outro lado, o mundo parece petrificado, suspenso num
misterioso estado de destruição imóvel e silenciosa. Sem acesso à civilização,
ela precisa aprender a sobreviver em completa solidão, acompanhada apenas por
um cachorro chamado Lince, uma vaca que batiza de Bella e uma gata.
(…)
Reconhecida como uma das grandes obras da literatura distópica e feminista, e
publicada em 1963 — um prenúncio dos piores anos de tensão nuclear na Guerra
Fria —, A parede apresenta, com precisão e força narrativa, uma jornada
íntima e universal. Ao mesmo tempo, propõe uma visão também utópica: sozinha, a
protagonista forma uma nova comunidade baseada no cuidado e na conexão com a
natureza. Para ela, amar um animal se torna mais fácil — e talvez mais
verdadeiro — do que amar um ser humano.
Em uma narrativa que combina o realismo vívido da vida reconstruída a partir do
essencial — plantar, caçar, cuidar — e uma meditação filosófica sobre o tempo,
o corpo e o sentido da vida, Haushofer captura uma radical dessencialização do
humano.”
Trecho do romance:
“(…)
as chances de eu manter aqueles animais vivos no meio da floresta eram bem
menores do que as chances de eles morrerem. Até onde me lembro, sempre tive
esse tipo de medo, e sempre terei, enquanto houver alguma criatura viva sob
meus cuidados. Por vezes, muito antes de a parede existir, desejei estar morta,
para enfim me livrar do meu fardo. Nunca falei sobre esse peso que carregava;
um homem não teria entendido, e as mulheres se sentiam exatamente como eu.
Assim, preferíamos ficar falando de vestidos, amigas e teatro, e ríamos,
escondendo nos olhos a preocupação que nos consome. Cada uma de nós sabia
disso, e nunca falávamos a respeito. Afinal, era o preço que pagávamos pela
capacidade de amar. Mais tarde, conversei com Lince sobre isso, só para não desaprender
a falar. Ele conhecia apenas um remédio para todo mal, uma breve e aprazível
corrida na floresta. A gata até que me ouve com atenção, desde que eu não
demonstre nenhuma emoção. Ela desaprova o menor traço de histeria e
simplesmente vai embora quando me deixo levar. Bella tem o hábito de responder
a qualquer coisa que eu lhe diga com uma lambida no meu rosto; pode ser
reconfortante, mas não é uma solução. Não há solução, até minha vaca sabe
disso, mas eu sigo lutando contra o sofrimento.”
(Marlen
Haushofer, A parede. Trad. Sofia Mariutti. Todavia)
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