(Tomoko Kawao, Vertigo-memai#1)
ausência presença
de muitos jeitos
fui te perdendo
pelos caminhos
fui te perdendo
pelos caminhos
tuas
palavras
já sem sentido
esvaziando
os labirintos
já sem sentido
esvaziando
os labirintos
de muitos modos
perdi o senso
já sem saída
ouvindo estrelas
perdi o senso
já sem saída
ouvindo estrelas
só deuses
bebem néctar
nós sorvemos
lágrimas
bebem néctar
nós sorvemos
lágrimas
*
mundo flutuante
estou ao lado de quem
não tem ninguém
o lado mais escuro
do céu que flutua
no mesmo lugar
estou ao lado de quem
ficou pra trás
estou ao lado do vento
tentando parar
o trem violento
depois da tempestade
esqueça quem
ficou a teu lado
estou do lado de quem
comigo olha o céu que flutua
no mesmo lugar
ao lado de quem
ainda sonha
quando ninguém mais
quer ficar atrás
*
o poeta
para
o poeta
antissocial,
demente,
existe
a poesia:
rua
onde se estende
sua
voz confusa.
para
os não poetas
existem
edifícios:
vida
é construção.
o
poeta só tem como meta
destruir-se.
destituir
a linguagem dominante
demitir
a vida de todos os dias
que
pede amor –
amor
em faixas douradas
e
sorrisos contagiantes.
para
o poeta existe a poesia:
não
entrará
no
círculo dos eleitos
mancha
mal-estar
insuportável
e
a possibilidade
de
rachar todo o edifício.
*
wabi sabi
para
celso setogutte
a
vida quebra
sonhos
em pedaços
mas
sonhando no espaço
nada
quebra:
mais
um elo,
um
motivo,
ser
mais belo
que
a beleza
destruída.
(já
havia aviso de asas)
*
arrebate
a
beleza da orquídea
e
a deixe em paz
*
um
cadáver
estendido
no açucareiro:
luto
no formigueiro
(Marilia Kubota)
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