quarta-feira, 3 de junho de 2015

Pipol's poems

Tínhamos os corpos tão leves,
que nos vestiam camisetas
com estampas de âncoras.
Mas mesmo assim, os vasos e
porcelanas da casa viviam se
quebrando.


*


Quando os pensamentos
faziam papai ficar triste,
muito triste mesmo, Maria
punha o nariz dele pra funcionar 
com o cheirinho de
comida que vinha da cozinha.
O almoço está na mesa, tristeza!
O que seria dos homens se
não precisassem comer?


*


Como é bonito ver uma
mulher chamando um táxi.

O automóvel vem em sua
direção, sem ninguém dirigindo.


*


As donas de casa fazem dos
fantasmas verdadeiros lençóis
secando no varal.
E os pobres maridos, que são
um pouco fantasmas também,
nãos sabem onde se esconder
em dias de faxina.


*


A porta abre, o balde cai.
O cigarro explode no nariz.
A língua fica roxa do chiclete.
Aparelhinho de choque no aperto de mão.
Palito de fósforo aceso,
encaixado entre os dedos do pé.

Acho que ela me ama,
mas estou desistindo.


*


Quando o trapezista manda
tirar a rede de proteção
a Arte vai embora.

E nunca mais volta.





(Pipol, 1961-2015)

(Guto Lacaz)




Nenhum comentário:

Postar um comentário