(capa da primeira edição, de 1926)
Um mundaréu de táxis e automóveis
particulares se alterna com democráticos ônibus pesadões que dão solavancos,
menos confortáveis e espaçosos do que nossa jamanta.
Essa concorrência, diante do caráter
mais do que exaltado dos motoristas espanhóis, ganha formas de um verdadeiro
combate.
Auto persegue auto, autos juntos perseguem
ônibus, e todos conjuntamente sobem nas calçadas, perseguindo passantes
precipitados.
Cidade do México é a primeira cidade
do mundo em número de acidentes de automóveis.
O motorista no México não se
responsabiliza por batidas (cada um por si!), por isso a duração média da vida
sem bater é de dez anos. Uma vez a cada dez anos atropelam alguém. Na verdade,
há também casos de não-atropelados no período de vinte anos, mas isso por conta
dos já-atropelados em cinco anos.
Diferentemente dos inimigos da humanidade
mexicana – os automóveis –, os bondes desempenham um papel humano. Eles
conduzem defuntos.
Frequentemente veem-se espetáculos
insólitos. Um bonde com parentes chorosos, mas o defunto está em um carro
fúnebre a reboque. Todo esse cortejo fúnebre acontece muito rápido, com um
mundaréu de buzinas e sem paradas.
Eletrificação original da morte!
Há relativamente pouca gente nas ruas
em comparação com os Estados Unidos – pequenas casinhas com jardins, cidade de
enorme extensão, mas 600 mil habitantes ao todo.
Há pouca propaganda de rua. Apenas de
noite uma se estampa. Um mexicano feito de lâmpadas elétricas laça um maço de
cigarros. E todos os táxis são enfeitados com mulheres arqueadas, prontas para
nadar – propaganda de trajes de banho.
A única propaganda de que gosta o
mexicano pouco impressionável é a baja
– a liquidação. A cidade se atulha com essas liquidações. As companhias mais
sólidas são obrigadas a anunciá-la – sem liquidação não se força o mexicano a
comprar nem folha de parreira.
Nas circunstâncias mexicanas isso não
é brincadeira. Dizem que a municipalidade pendurou uma placa em umas das entradas
que levam à Cidade do México, para conscientização de indígenas naturais
demais:
É PROIBIDO ENTRAR SEM CALÇAS NA CIDADE
DO MÉXICO
(...)
Às onze horas, quando fecham teatros e
cinemas, restam alguns cafés e bodegas subterrâneas suburbanas e arrabaldinas –
e caminhar começa a se tornar bastante perigoso. Já não deixam entrar no jardim
Chapultepec, no qual está o palácio do presidente.
Pela cidade um monte de disparos. A polícia
que acorre nem sempre desvenda o assassinato. Mais do que tudo disparam em
tavernas, usando Colts como saca-rolhas. Golpeiam gargalos de garrafas. Disparam
simplesmente do carro, para fazer barulho. Disparam por aposta – tiram a sorte,
quem vai matar a tiro –, o sorteado mata com honra. Disparam para o jardim
Chapultepec de caso pensado. O presidente ordenou que não permitissem a entrada
no jardim quando está escuro (no jardim do palácio presidencial), que
disparassem depois da terceira advertência. Não se esquecem de disparar, só que
às vezes se esquecem de advertir. Os jornais escrevem com prazer sobre
assassinatos, mas sem entusiasmo. Mas, em compensação, quando o dia passa sem
mortes, o jornal publica com surpresa: “Hoje não houve assassinatos”.
É grande o amor pela arma. Costumam se
despedir de um amigo assim: de pé, barriga com barriga, dão uns tapinhas nas
costas – aliás, mais embaixo – e sempre dão uns tapinhas no pesado Colt, no
bolso traseiro da calça.
Todo mundo faz isso, dos 15 até os 75
anos de idade.
(Vladímir Maiakóvski, Minha descoberta
da América. Trad. Graziela Schneider. São Paulo, Martins, 2007)
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