segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Filhote de tartaruga

Você sabe o que é nascer só,
Filhote de tartaruga
O primeiro dia para erguer pouco a pouco seus pezinhos da concha,
Ainda não desperto,
E ficar caído na terra,
Não de todo vivo.
Um grão minúsculo, frágil, metade animado.
Para abrir sua minúscula boca de bico, que parece que nunca se abriria,
Como uma porta de ferro;
Para erguer o bico superior de falcão a partir da base mais baixa
E esticar seu pequeno pescoço fino
E dar sua primeira mordida em algum obscuro pedaço de erva,
Só, pequeno inseto,
Pequenino olho brilhante,
Vagaroso.
Para dar sua primeira mordida solitária
E continuar em sua lenta, solitária caçada.
Seu pequeno olho brilhante e escuro,
Sob sua pálpebra vagarosa, pequenino filhote de tartaruga,
Tão indomável.
Nunca ninguém o ouviu reclamar.
Põe sua cabeça para fora, lentamente, de sua pequena touca
E parte, arrastando-se devagar sobre seus pés de quatro alfinetes,
Remando devagar para frente.
Para onde, pequeno pássaro?
Tal qual um bebê mexendo os membros,
Só que você faz um progresso lento, demorado
E um bebê não faz nenhum.
O toque do sol o excita,
E as longas eras e o frio prolongado
Fazem-no parar para bocejar,
Abrindo sua boca impenetrável,
De repente em forma de bico, e todo aberto, como tenazes inesperadas e bocejantes;
Língua vermelha e macia e gengivas finas e firmes,
Então fecha a cunha de sua pequena fronte de montanha,
Seu rosto, filhote de tartaruga.
Surpreende-se diante do mundo quando volta, com vagar, sua cabeça em sua touca
E o vê com olhos negros, lacônicos?
Ou é o sono que o invade de novo,
A não vida?
Você é tão difícil de acordar.
É capaz de se surpreender?
Ou é apenas sua vontade indomável e o orgulho da vida inicial
Olhando ao redor
E com lentidão arremessando-se contra a inércia
Que parecera invencível?
A vastidão inanimada,
E o brilho suave do seu olho tão pequenino,
Competidor.
Não, pequenino pássaro de concha,
Que vastidão inanimada é essa contra a qual deve remar,
Que inércia incalculável.
Competidor,
Pequeno Ulisses, precursor,
Não maior do que a unha de meu polegar,
Buon viaggio.
Toda a criação animada sobre o seu ombro,
Avance, pequeno Titã, sob o seu escudo de batalha.
Quão vívida sua viagem parece agora, à luz do sol que se agita,
Átomo ulisseano, estoico;
De repente apressado, impulsivo sobre os dedos altos.
Pequeno pássaro sem voz,
Descansando sua cabeça metade para fora de sua touca
Na dignidade vagarosa de sua eterna pausa.
Só, sem a consciência de estar só,
E portanto seis vezes mais solitário;
Preenchido pela paixão lenta de arremessar pelos tempos imemoriais
Sua pequena casa redonda no meio do caos.
Sobre a terra do jardim,
Pequeno pássaro,
À margem de todas as coisas.
Viajante
Com sua cauda um pouco de lado
Como um cavalheiro de casaco rodado.
Toda a vida carregada no seu ombro,
Precursor invencível.
(D.H. Lawrence, tradução minha)